Alerta

Projeto da UFRN investiga a prevalência da doença de Chagas em Apodi

No Brasil, a Doença de Chagas é a 4º causa de morte por doenças infecto-parasitárias e atinge entre  1,9 a 4,6 milhões de pessoas no país. Aliada à covid-19, ela pode desencadear em uma coinfecção pouco descrita na literatura científica.

Com o propósito de analisar o impacto dessa ligação a nível local, novo projeto investiga casos de infecção por Doença de Chagas em amostras enviadas para testagem de sorologia para Covid-19, coletadas no município de Apodi, na região Oeste do RN, e como a junção das patologias são manifestadas nos pacientes. A expectativa é que o trabalho favoreça o aumento de diagnósticos e amparo das populações mais atingidas pela Doença de Chagas. 

João Firmino Rodrigues Neto, professor na Escola Multicampi de Ciências Médicas do RN  (EMCM/UFRN) e responsável pela iniciativa, explica que a Doença de Chagas é um problema crônico, transmitido principalmente pelo inseto barbeiro e, na maioria dos casos, com início assintomático. Isso significa que muitas pessoas só apresentam os sintomas após trinta a quarenta anos de infecção. No caso da população sintomática, a tendência é o surgimento de sinais como problemas cardíacos, digestivos e a articulação entre os dois. “Nesse sentido, como essas pessoas já são mais propensas a terem problemas cardíacos, a ideia é que pessoas com a Doença de Chagas crônica e que tenham adquirido a covid possam responder de forma diferente a doença”, esclarece. 

O projeto é uma iniciativa da EMCM com o Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (DACT/UFRN) e Instituto de Medicina Tropical (IMT-RN). As amostras de sorologia foram coletadas pela Prefeitura Municipal de Apodi (RN) e estão armazenadas e serão avaliadas no IMT/UFRN. João Firmino observa que uma grande porcentagem do município foi testada ao longo da pandemia da covid-19 e, por se tratar de uma área endêmica para doença de Chagas, a região foi escolhida para analisar casos de coinfecção e promover um trabalho de qualidade em torno do tema. 

O professor continua explicando que ainda há poucos trabalhos sobre os efeitos causados pela infecção paralela entre a covid-19 e a Doença de Chagas. Buscando preencher parte dessa lacuna, o esperado é que a pesquisa identifique como pacientes atingidos pelo problema reagem às infecções, quais os processos de manifestação dos sintomas e se o uso de suporte ventilatório ou hospitalizações foram mais necessárias ou não. “A gente ainda tem muito o que descobrir e o que avaliar. Para o universo de casos de covid-19 e número de pessoas que têm a Doença de Chagas no país, ainda tem poucos trabalhos”, ressalta. 

Difícil diagnóstico

Na busca pelo combate à Doença de Chagas no Brasil, o principal desafio está no diagnóstico. Isso porque a infecção atinge as camadas da população mais vulneráveis e com baixo acesso aos serviços de saúde. O resultado disso é que muitas pessoas infectadas podem nunca descobrir que apresentam a doença, especialmente, em seu estado crônico. Além da necessidade do monitoramento, outra barreira está na infraestrutura de moradia dos grupos afetados. João Firmino adverte que essas populações têm condições habitacionais mais precárias, como as construções de pau a pique, favoráveis ao barbeiro que aproveita-se para ficar instalado nas casas. 

Para controlar o número de casos pela doença, o docente afirma que antes da pandemia o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais promoviam acompanhamentos entomológicos rotineiros junto à população. Em virtude da crise sanitária e outros fatores, o trabalho foi reduzido. Já à nível estadual a investigação é realizada pela Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP). “Com relação ao município, nosso trabalho está sendo desenvolvido em parceria com a prefeitura municipal. O pessoal da secretaria de saúde faz um acompanhamento dessas pessoas. Eles já tem  mapeado  quais são as áreas da cidade mais propícias e mais endêmicas para a Doença de Chagas”, complementa.

O município de Apodi faz o gerenciamento mediante visitas realizadas por agentes de saúde aos moradores da região. Além disso, o órgão estabelece uma relação direta com o Instituto de Medicina Tropical e com a população apodiense. “A gente precisa buscar, entender e conseguir o maior número de informações e diagnósticos para que, mesmo passado o quadro da covid e da pandemia, as pessoas que não conseguiram realizar o diagnóstico da Doença de Chagas possam ser diagnosticadas, acompanhadas e submetidas ao tratamento adequado”, enfatiza.

Com informações da UFRN