Apesar de já fazer parte da nossa rotina e parecer inofensiva, a gripe é muito mais perigosa do que se imagina. A doença pode causar hospitalização e até mesmo a morte, sobretudo entre os grupos de maior risco, como os idosos. Os números da infecção são alarmantes e dão uma noção melhor da problemática.
Todos os anos, estima-se que de 20% a 30% das crianças e 5% a 10% dos adultos do mundo inteiro sejam atingidos pelo vírus Influenza. Calcula-se que de 250 mil a 500 mil pessoas morreram no planeta em decorrência das complicações da enfermidade.
Há quase 12 anos, em junho de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou situação de pandemia de Influenza por conta do impacto em grande escala causado por uma cepa do vírus A(H1N1). De acordo com um estudo publicado por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, naquele ano, o episódio que ficou conhecido como gripe suína levou à morte entre 151 mil e 575 mil pessoas em todo o mundo.
Por isso a imunização é tão importante. Neste mês, centros de pesquisa em diversas regiões do Brasil começaram a testar uma nova vacina contra a gripe, a tetravalente, desenvolvida pelo Instituto Butantan. Ela protege contra quatro variantes do vírus Influenza, sendo duas cepas A (H3N2 e H1N1) e duas B (Victoria e Yamagata), uma a mais que a vacina disponível atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS), que sempre conta com antígenos contra duas cepas do tipo A e apenas uma do tipo B.
O Recife é uma das cidades onde estão sendo feitos os estudos clínicos em humanos, para avaliar a imunogenicidade e a segurança do imunizante. De acordo com o pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo do Butantan, Rafael Dhália, por incluir mais uma cepa do vírus, acredita-se que ela ampliará a imunização contra os vírus influenza B e a proteção, principalmente em populações consideradas de risco para o agravamento da doença, como crianças, adolescentes, idosos e gestantes.
Apesar de ainda não ser oferecida no SUS, na rede privada é possível encontrar a vacina tetravalente contra a gripe, que garante proteção contra quatro cepas do vírus Influenza, mas ela pode chegar a mais de R$ 200. “Pelo menos 15 empresas no mundo fazem vacinas tetravalentes, mas o Butantan ainda não. O Instituto quer melhorar o imunizante que ele já distribui para o Ministério da Saúde, mas não é como fazer um bolo. Tirar um ingrediente e trocar por outro. Cada vez que você faz uma modificação no sistema é preciso fazer estudo clínico”, comenta.
O pesquisador explica que todos os anos a OMS realiza a escolha das cepas que farão parte da vacina influenza sazonal do hemisfério Sul, baseada na circulação deste vírus no ano anterior. “O problema é que isso era mais possível no passado porque havia uma certa distribuição diferente das variantes. No entanto, hoje em dia há um aumento considerável da circulação das cepas B Victoria e B Yamagata. Então, isso forçou o Butantan a fazer uma formulação mais completa, com mais cepas, incorporando as duas cepas B”, diz. Se os estudos forem bem sucedidos a tetravalente vai ser produzida da mesma forma que a trivalente, usando ovos embrionados de galinha com vírus fragmentados e inativados.
Qualquer pessoa pode participar o estudo
Um dos diferenciais deste estudo realizado pelo Butantan é que não há aplicação de placebo – substâncias sem efeitos. Todos que participarem vão receber uma das vacinas contra a gripe já usadas no SUS ou a nova com proteção contra uma cepa a mais. Por outro lado, alguns grupos não podem participar, como mulheres grávidas ou que estejam amamentando e pessoas com hipertensão e diabetes. Outra vantagem é que são aceitas faixas etárias que não são cobertas com a vacinação pelo SUS, como crianças a partir de três anos, adolescentes e jovens adultos.
“O voluntário vai ter quatro vezes mais chances de tomar a tetravalente. É uma vacina tradicional, de vírus inativado e fragmentado. A novidade não é tecnológica é a inclusão de uma cepa a mais. Queremos analisar o quanto mais eficiente essa vacina é em relação as que já são oferecidas no SUS para ter subsídios e substituir. A ideia é que no próximo ano os brasileiros já estejam tomando a vacina tetravalente do Butantan, mas é preciso passar por estudo clínico e pela regulamentação da Anvisa para só depois ser usada pela população”, acrescenta Dhália.
Rafael Dhália explica que adolescentes e adultos recebem uma dose da vacina e retornam ao Centro de Pesquisas, no Real Hospital Português, no Centro do Recife, 21 dias depois de vacinados, para que seja feita coleta de sangue para avaliação da eficácia do imunizante. Já crianças de 3 a 8 anos recebem duas doses, portanto terão uma visita a mais. Todos são acompanhados durante seis meses por uma equipe multidisciplinar. Para agendar basta entrar em contato por telefone ou e-mail (veja no infográfico).
De acordo com Rafael Dhália, mesmo após o SUS passar a oferecer a vacina tetravalente o reforço na imunização continuará sendo anual porque o vírus Influenza, dependendo da cepa, sofre mutação. “Então, todos os anos ele tem uma variabilidade grande. Independentemente de ter uma cepa a mais ou a menos, todos esses vírus se modificam muito. O que vai aumentar é a eficácia. Consequentemente, o número de pessoas que vão adoecer vai diminuir e as que vão evoluir para formas graves também”, acrescenta.
A gripe é uma infecção aguda do sistema respiratório ocasionada pelo vírus Influenza e que se espalha facilmente. A transmissão direta de pessoa a pessoa é mais comum, e ocorre por meio de gotículas expelidas pelo indivíduo infectado com o vírus, ao falar, espirrar ou tossir. Ela começa com febre, dor muscular e tosse seca e pode se apresentar de forma grave. Se não tratada a tempo, pode evoluir para pneumonia ou outras complicações, principalmente nas pessoas com mais de 60 anos, crianças menores de cinco anos, gestantes e doentes crônicos.