No meio de tantas músicas e ritmos, surge na cidade o bloco que arrasta multidões durante todos os dias de Carnaval, o Ala Ursa do Poço de Santana, conhecido popularmente como Bloco do Magão. Comandado pelo carnavalesco Ronaldo Batista, o Magão, o bloco traz o que é considerado a tradição: o frevo e as marchinhas. Aos 65 anos, Magão faz questão de manter manter os ritmos clássicos do carnaval para que se mantenham as coisas boas. “Por que mudar um negócio que há 43 anos está dando certo? Por que mudar um ritmo que só quem está fazendo é o vovô Magão? Quando a população não quiser mais, eu paro. Mas o Ala Ursa ainda tem lenha para mais 50 anos!”.
O bloco faz sucesso há mais de quatro décadas e durante sua criação, a crítica social sempre esteve presente. De acordo com Magão, o bloco começou a criticar o carnaval voltado apenas para a elite da cidade, que não dava espaço para o restante da população curtir a festa. “Criticar é mostrar o que está errado e o que pode ser viável, é muito difícil mas você tem que ter a solução. No Ala Ursa do Poço de Santana, nós começamos a criticar o carnaval dos ricos, quando nós éramos humilhados no Bloco do Lixo batendo em umas latas e não podíamos nem passar por todas as ruas”, afirmou.
Além disso, o bloco também tinha o objetivo de criticar outros pontos da cidade, como o poço de Santana, que, devido ao esgoto, estava poluído. Essa situação fez com que o bloco ficasse conhecido como Ala Ursa do Poço de Santana.
Completando o 43º ano de existência, o Ala Ursa do Poço de Santana se mantém em evidência não só por resgatar a cultura dos carnavais de época, mas também pela simplicidade na construção dos bonecos gigantes, da trivela que leva a Orquestra perto da multidão e da forma acolhida que os foliões são recebidos ainda na concentração. “Lá não tem corda, não tem isolamento, o bloco é de todo mundo, todo mundo sabe contar a história do ala ursa. Quando você chega lá, é bem recebido. Ninguém vai te incomodar por ser negro ou branco, não irão te destacar por ser doutor. somos todos iguais. Fazemos um carnaval popular, simples, do povo”, diz o carnavalesco.
Este ano, o Bloco do Magão conta com o financiamento da Prefeitura Municipal de Caicó. Magão afirma que sempre contou com a colaboração dos foliões, a partir de campanhas de arrecadação e rifas para contribuir para a organização do evento. O Ala Ursa segue por mais de 40 anos com o esforço dos apaixonados pelo bloco: “Quem foi que disse que o Ala Ursa não saia? O Ala Ursa está na rua alegrando muita gente”.
Devido à pandemia da Covid-19, o bloco ficou dois anos sem circular. Com isso, voltar às ruas com os bonecos gigantes e o carro da Orquestra foi mais um desafio para Magão. “Em 2023, tudo que o Ala Ursa tem de produção é novo, é feito do meio de 2022 para cá. Os bonecos são novos, o carro foi reconstruído porque é feito de reciclagem e passou muito tempo parado. Eu não tinha dinheiro. Mas estamos fazendo uma campanha para arrecadar fundos e até quarta-feira ele ficará pronto. Foi difícil, mas nós estamos surgindo do zero e vamos fazer um carnaval muito bonito”.
Em meio a tantas dificuldades, o carnavalesco lembra da importância que a rua tem para o Carnaval. Para ele, é uma semana benéfica para centenas de pessoas de baixa condição financeira que veem ali uma maneira de garantir renda extra para o resto do ano.”A gente tem que colocar na cabeça que o carnaval também é feito para pessoas mais humildes poderem vender um cachorro-quente, cerveja, água para depois da festa terem algum dinheiro para comprar um caderno, comida para os filhos, comida. O Carnaval de rua serve pra isso”.
Agora RN