O número de médicos ativos no Rio Grande do Norte está 25% abaixo da média nacional, segundo o levantamento Demografia Médica do Conselho Federal de Medicina (CFM). Isso significa que o Estado tem uma média de 1,91 médicos para cada grupo de mil habitantes, distante da média nacional de 2,56. A OCDE, organização de desenvolvimento econômico intergovernamental, com 38 países participantes, estabeleceu que o ideal seria 3,5 médicos para cada grupo de mil habitantes. A deficiência na quantidade desses profissionais também gera desigualdade na distribuição pelos municípios. Dos 6.812 médicos que atuam no RN, apenas 28% está fora da capital.
A carência de profissionais médicos é uma reclamação antiga dos potiguares. O assunto já chegou a ser pauta de uma audiência da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal com o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) devido a falta em maternidades da Região Metropolitana. O centro da questão era a maternidade Leide Morais, na zona Norte da capital, que já teve atendimento paralisado por falta de profissionais obstetras no ano passado. De acordo com a administração da unidade, o problema já foi solucionado, pelo menos para o mês de fevereiro.
Contudo, a dificuldade persiste. O hoje aposentado Odvan Alves, diz que teve a vida afetada radicalmente por causa de demora no atendimento público, ocasionada pela pequena quantidade médicos para a demanda. Segundo ele, no fim dos anos 1990 aguardou cerca de 15 dias por um médico nos corredores do Hospital Walfredo Gurgel. À época ele buscava atendimento para uma inflamação na medula óssea, o que faria com que ele perdesse os movimentos das pernas. Odvan diz que o problema se agravou por causa da espera.
“Foi uma situação muito difícil e pelo que a gente vê não mudou muita coisa. Fiquei aguardando por um médico por 15 dias e nada. Isso piorou o meu problema e hoje estou aqui nessa cadeira de rodas”, conta o aposentado.
Com uma média de 1,91 médicos por mil habitantes hoje, o Rio Grande do Norte fica atrás de três estados nordestinos: Paraíba (2,17 médicos/mil habitantes); Sergipe (2,09); e Pernambuco (1,96). Dentro da região Nordeste, o estado potiguar fica à frente de Ceará (1,86); Alagoas (1,76); Piauí (1,76); e Maranhão (0,97). No cenário nacional, o RN ocupa a 17º colocação no ranking de estados com mais médicos proporcionais à população. O melhor estado nesse quesito é o Distrito Federal com 4,72 médicos para cada mil habitantes.
O Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed) diz que o efetivo, considerado baixo, provoca falta de atendimento em algumas unidades do Estado, principalmente no interior. O levantamento do CFM aponta que, dos 6.812 médicos ativos no RN, a grande maioria está concentrada na capital. Natal chega a ter cinco vezes mais médicos por mil habitantes do que o interior. Com 4.854 vivendo na capital, a média é de 5,41 médicos por mil habitantes, enquanto no interior esse mesmo índice é de 0,73.
O presidente do Sinmed afirma que os profissionais do Estado nem sempre conseguem preencher demandas específicas. “Nós temos hoje várias áreas que nós não conseguimos preencher escala. Por exemplo, em UTI pediátrica, o Estado tem uma carência muito grande em endocrinologia, reumatologia, neurologia, psiquiatria. Temos uma carência que precisaria ser suprida”, avalia Geraldo Ferreira.
Ele critica a distribuição dos profissionais e explica que o fenômeno não é motivado exclusivamente pela vontade dos profissionais. Fatores como condições de trabalho e falta de equipamentos especializados acabam pesando para que a capital seja mais atrativa.
“A capital tem maioria dos serviços. É o local onde os grandes hospitais públicos e privados estão localizados. É a tendência. No entanto, mesmo assim, a proporção deveria ficar equilibrada em 50%”, diz ele.
Ferreira revela que há um excesso de concentração e principalmente de especialistas na capital. “No interior há uma carência absoluta de especialistas. Isso cria uma dificuldade de acessibilidade”, analisa. Natal tem quatro vezes mais especialistas do que o interior: o saldo é de 653 a 2.620. No geral, 52,96% dos médicos do Estado são generalistas e 48,04% são especialistas.
Tribuna do Norte