Fé e devoção. São essas as grandes inspirações que levam o acariense e historiador Adriano Campelo, de 38 anos, ao seu ofício nas artes, que ele batizou de “Santos Lápis”. Entalhar ganha novos contornos através de suas mãos habilidosas, onde figuras sagradas como: Santa Rita, Sant´Ana, São José, São Bento ou São José são esculpidas e eternizadas no que um dia já foi um comum e despercebido lápis.
“O lápis foi um desafio de uma amiga, que me trouxe um, e hoje só existem dois artistas que fazem esse tipo de trabalho (no Brasil, até onde ele sabe). Um em João Pessoa (PB) e eu. Ela me trouxe um lápis com o desafio de que fizesse esse tipo de arte para ganhar dinheiro. E aí eu fiz, e o resultado ficou melhor do que o dela. Hoje é um trabalho que é bem valorizado, quase que único e agregou muito valor ao meu trabalho de historiador.”, disse.
Adriano, que é atual coordenador do Museu Histórico de Acari, começou aos 13 anos, a lapidar seu olhar para as arte. “Olha, desde criança eu já trabalhava com arte, né? E já vindo de família, herança dos meus avós, que trabalhava com barro, com palha, com pano. E aí, além disso, já tá na veia, né? Eu encontrei na natureza, no ambiente que eu trabalhava, a inspiração pra fazer esse tipo de arte”, explica.
Natural de Acari, no Seridó do Rio do Grande do Norte, que tem como padroeira Nossa Senhora da Guia e de um povo reconhecido pela devoção, Adriano também fala de um presente especial que ele enviou ao Papa Francisco.
“Todos os anos o padre Flávio, que é daqui, mas mora em Roma, e é cerimonialista de uma Basílica de lá, traz alguma coisa de lá. Alguma lembrança do Papa. E aí eu tive a ideia de mandar para o Papa, em forma de agradecimento por essa conexão, uma lembrancinha pelo padre e pesquisei qual era o santo de devoção dele. Devido ao tempo, eu só tinha como confeccionar algo rápido. O santo de devoção do Papa era São José, e não daria tempo confeccionar. Pesquisei a segunda devoção e era Nosso Senhor Desatador dos Nós, que eu fiz no lápis e mandei por Padre Flávio. Que foi entregue lá numa cerimônia que estava acontecendo na Praça de São Pedro, e ele recebeu a TV do Vaticano, que deu ênfase a essa entrega. E aí, de repente, já tinham várias TVs, rádios, ligando para mim (porque identificaram a arte) para que eu mostrasse e contasse um pouco de como tinha sido toda essa ligação. E junto eu escrevi uma carta, um bilhetezinho, poucas linhas, dizendo da nossa fé aqui de Acari, e da nossa satisfação pela igreja daqui estar ligada com Roma.”, afirma. O Papa recebeu em 2018.
Mas a pergunta que não quer cala: “Como ele faz para entalhar com tanta beleza, cores e precisão?” Adriano explica “No próprio lápis eu vou entalhando com um bisturi cirúrgico que tem várias lâminas, e isso possibilita que eu brinque e dê vários detalhes ao artefato. E vou entalhando alguns lápis do complemento e aí com o palito de fósforo, massa, argamassa, eu vou moldando até que o lápis ganhe a forma.”
“Um lápis, por exemplo, de Nossa Senhora da Guia, que é a padroeira da Acari, eu posso passar até três dias. Desde o entalhe até a pintura do próprio lápis e da caixinha que é em formato de oratório.”, completa.
Atualmente, Adriano tem uma página no instagram o “Ateliê Adriano Campelo” (@atelieadrianocampelo), e mora nas proximidades do famoso Açude da Região, o Gargalheiras.
“Lá eu tenho um ateliê, as pessoas podem visitar também. Eu atendo aos pedidos tanto pelas redes sociais quanto no próprio local.”, diz Adriano, que tenta concilar suas outras atividades com a confecção dos lápis. E o preço por tanto esmero na produção personalizada varia entre R$: 60 e R$: 120 reais, dependendo da encomenda.
Ponta Negra News