O número de nascimentos de bebês prematuros aumentou 13,03% no Rio Grande do Norte ao longo de 2020. Esse índice é superior ao nacional, que gira em torno dos 11%, e coloca o Brasil na lista dos 10 países em todo o mundo com o maior quantitativo de partos prematuros. Conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) analisados pelo Instituto Santos Dumont (ISD), foram registrados 5.571 nascidos vivos prematuros em 2019 contra 5.673 no ano seguinte.
O bebê é considerado prematuro, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), quando nasce antes da 37ª semana de gravidez.
O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), uma das unidades do ISD em Macaíba, é referência na saúde materno-infantil com a disponibilização de atendimento de equipe multiprofissional – ginecologista e obstetra, pediatra, neurologista, fisioterapeuta, entre outras especialidades. Foi nele que Renata Regia Costa, 18 anos, mãe de Kaleb Noan Moura da Silva, de seis meses, fez o pré-natal. Ela é moradora da comunidade quilombola Capoeiras, pertencente ao município macaibense.
Na 32ª semana de gestação ela contraiu covid-19 e passou por um grande susto. “A minha gestação foi super tranquila. Nunca senti nada de anormal no período. A surpresa veio com a saída do líquido amniótico e depois, as contrações. O líquido começou a sair pela manhã e, à noite, as dores que culminaram no parto cesárea”, relembra a mãe de primeira viagem. Ela começou a ter os sintomas da covid-19 pelo menos uma semana antes do parto, realizado às pressas. A equipe médica que a atendeu no Hospital Regional Dr. Alfredo Mesquita Filho, em Macaíba, acredita que a doença tenha provocado as contrações fora do período convencional.
“Tive um grande susto. Ele não chorou quando nasceu e estava roxo”, diz a mãe. Kaleb nasceu com 2,2kg e 39 centímetros. “Ele cabia na palma da minha mão”, relembra Renata Régia. Hoje, pouco mais de seis meses passados, mãe e filho estão mais conectados do que nunca e saudáveis. Kaleb faz acompanhamento pediátrico no Anita e seu desenvolvimento é considerado satisfatório para uma criança nascida antes do tempo. Kaleb deveria ter nascido em junho, mas sua chegada ao mundo ocorreu quase dois meses antes, em abril.
A preceptora médica ginecologista obstetra do ISD, Sandrégenes Maia, aponta que o número de nascimentos de bebês prematuros no Rio Grande do Norte pode ter crescido em virtude do acompanhamento pré-natal inadequado, somado às imposições de distanciamento social em razão do coronavírus.
“Com a pandemia, as mulheres grávidas sentiram medo de sair de casa. O pré-natal acabou sendo ainda mais prejudicado. Além disso, um pré-natal inadequado e a ausência de equipes de profissionais completas nas Unidades Básicas de Saúde, podem ter contribuído para esse aumento. Nós alertamos que o pré-natal é o momentos mais importante da gestação, pois é quando conseguimos diagnosticar alterações maternas e fetais que exigem, muitas vezes, um acompanhamento mais próximo, algumas medidas intervencionistas e tratamento em tempo oportuno para evitar complicações, como o parto prematuro e suas consequências, dentre elas a mortalidade infantil que tem como principal causa no Brasil, a prematuridade”. adverte a especialista.
Entre as sequelas da prematuridade, há o atraso no desenvolvimento, ganho de peso inadequado, sedentarismo, obesidade, anemia.
Curva ascendente
Os dados da Sesap/RN apontam que o percentual de prematuros nascidos vivos no Rio Grande do Norte se mantém em ascensão desde 2017. No Estado, a 2ª Região de Saúde, que engloba Mossoró e outras 13 cidades do entorno, é a que responde, percentualmente, pelo maior volume de bebês nascidos antes das 37 semanas de gestação. Outro aspecto do levantamento, de 2016 a 2021 (considerado o intervalo de janeiro a outubro), foram 5.314 nascidos vivos prematuros na região. De janeiro a outubro deste ano, em todo o território potiguar, nasceram 30.531 crianças, sendo 13,66% prematuramente.
A equipe técnica da Sesap/RN chama atenção para os riscos que envolvem a saúde do bebê prematuro. Eles são “mais suscetíveis a adquirir infecções, além de apresentarem complicações decorrentes da prematuridade, com riscos significativos à saúde, o que contribui para uma elevação crescente da mortalidade infantil em crianças menores de 5 anos de idade”.
No Estado, por causa da pandemia de covid-19 e impôs medidas de isolamento social desde março de 2020, “serviços essenciais de saúde foram afetados, comprometendo a qualidade do atendimento prestados aos recém-nascidos, principalmente aos prematuros e de baixo peso, contribuindo para a separação entre mães e bebês e para a ocorrência de mortes evitáveis”, aponta a pasta estadual de Saúde.
Uma das maneiras mais efetivas de mitigar a ocorrência de danos maiores ao bebê prematuro, é mantê-lo a maior parte do tempo próximo à mãe, quando as condições clínicas permitem. No Rio Grande do Norte, a Maternidade do Hospital Dr. José Pedro Bezerra, em Natal, adotou o Método Canguru, iniciativa que integra a Atenção Humanizada, reduz o tempo de separação entre mãe e recém-nascido e aumenta o vínculo afetivo entre mãe, bebê e família.
Além disso, o método permite um controle térmico adequado, contribui para a redução do risco de infecção hospitalar, reduz o estresse e a dor do recém-nascido, aumenta as taxas de aleitamento materno, melhora a qualidade do desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do recém-nascido, entre outros importantes benefícios.
“O Método Canguru está entre as melhores intervenções para melhorar as chances de sobrevivência de um bebê prematuro ou com baixo peso ao nascer, especialmente em países de baixa renda. A Unidade de Neonatologia do Hospital José Pedro Bezerra, obedecendo todos os protocolos de segurança e combate a pandemia de Covid-19, segue promovendo separação zero, mantendo mãe e bebê prematuro juntos, oferecendo o que de há de melhor na assistência à gestante e recém-nascido de alto risco,” destaca a Dra. Tereza Ribeiro, médica pediatra neonatologista e Coordenadora do Método Canguru no RN.
Data
Nessa quarta-feira (17), ações em pelo menos 50 países chamam atenção para o Dia Mundial da Prematuridade. A data foi escolhida após a morte de trigêmeos prematuros, em dezembro de 2006, filhos do criador da Fundação Europeia para o Cuidado do Recém-nascido (EFCNI). Ao mesmo tempo, o March of Dimes, organização de caridade americana para prematuros e recém-nascidos, teve uma ideia semelhante e lançou um Dia da Consciência para a Prematuridade, em 17 de novembro nos EUA.
E por que a cor roxa? O roxo simboliza sensibilidade e individualidade, características que são muito peculiares aos prematuros. O roxo também significa transmutação, ou seja, mudança; a arte de transformar algo em outra forma ou substância, transformação.
No mundo todo, 1 em cada 10 bebês nasce prematuro. Todos os anos, cerca de 15 milhões de crianças nascem antes do tempo (dados de 2012). E esse número continua aumentando, apesar do número total de nascimentos estar diminuindo gradativamente. Isso significa que em todo mundo há um aumento significativo de recém-nascidos vulneráveis a cada ano, bem como o número de chamados “ex-prematuros” é cada vez maior.
À medida que essas crianças crescem, eles têm maior risco para problemas de aprendizagem e comportamentais, deficiências motoras, infecções respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares ou diabetes, em comparação com bebês nascidos a termo.
Apesar do elevado número de nascimentos prematuros e os riscos neles envolvidos, a maioria da população não está ciente de que muitas vezes é possível prevenir o parto prematuro e suas consequências para a saúde do bebê.