As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) são distúrbios autoimunes do sistema digestório que geram uma inflamação crônica ao longo de todo o trato gastrointestinal. Segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), nos últimos anos o Brasil registrou um aumento de 15% nessas patologias. Cerca de cinco milhões de pessoas no mundo são atingidas pela doença. Por ser uma condição crônica, sem uma causa exata conhecida pela literatura médica, é um problema que exige atenção. Os portadores podem ter uma vida normal durante as diferentes fases da doença, mas precisam saber quais cuidados adotar para isso.
As gastroenterologista Verônica Vale ressalta que as DII não têm uma causa específica, mas pode ser determinada por uma somatória de fatores. A inflamação recorrente e crônica da parede intestinal pode estar relacionada a fatores genéticos, ambientais, microbianos, e imunológicos. Ela lista condições como a microbiota intestinal, a resposta do corpo do paciente à inflamação (imunológica), ambiente, e genética.
Há uma predisposição genética ao aparecimento da doença e uma tendência a ser mais frequente em membros de famílias que já registaram casos anteriores. Apesar de não serem causadores dessa condição, também há fatores que podem ativar os genes que levam à doença e agravar os sintomas, como estresse, carência de zinco, vitaminas D e A, parasitoses, infecções, etilismo, alergias alimentares, obesidade, metais tóxicos, toxinas ambientais, dieta rica em carboidratos e gorduras.
As DII mais registradas são a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. Os sintomas das duas doenças são parecidos. A primeira, conforme explica Verônica, pode acometer desde a mucosa oral, esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), até o intestino grosso (incluindo todos os segmentos) até o reto. “A Crohn é uma doença transmural, ou seja, pode acometer todas as camadas da parede das mucosas, pode formar abscessos e trajetos fistulosos”, ressalta. Ela causa feridas como aftas no intestino.
Já a retocolite é uma doença inflamatória restrita ao reto e intestino grosso. O acometimento é progressivo, pode iniciar na mucosa retal e progredir para os outros segmentos do intestino grosso. “Quando acomete todo o intestino grosso, chamamos de Pancolite Ulcerativa, que pode ser leve, moderada ou grave”, explica a gastroenterologista.
É possível obter um diagnóstico precoce sobre as DII. Há sintomas que atuam como sinais de que o trato gastrointestinal não está bem. O sintoma mais comum é diarréia crônica, assim como fezes líquidas com muco e sangue, várias evacuações por dia, o despertar noturno com dor abdominal e urgência para evacuar, além de perda de peso, fadiga, e alteração da qualidade de vida. Em casos mais graves, o paciente pode ter anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal.
Entre 15% e 30% dos pacientes podem apresentar, ainda, manifestações extraintestinais como dor nas articulações, lesões de pele ou oculares. Verônica ressalta que o diagnóstico precoce é bastante importante. “É bom procurar atendimento quando dos sinais de alarme citados acima, a fim de que façamos a investigação para conseguir tratar de forma precoce aproveitando a janela de oportunidade, e assim evitar as complicações graves dessas duas DII”, ressalta.
Tádzio França