Compras nos supermercados acumularam um aumento de 17,37% nos 12 meses encerrados em agosto, segundo IPCA-15. Foto: Adriano Abreu
Os consumidores planejam ampliar gastos com bens nos próximos meses, mas o aumento nos preços dos alimentos é o principal obstáculo enfrentado pelos brasileiros para exercer seus desejos de consumo, segundo uma pesquisa da empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil.
Apontada por 67% dos entrevistados, a inflação de alimentos obriga os consumidores a direcionar uma parte maior do orçamento doméstico para os itens essenciais, em detrimento dos supérfluos. O segundo e terceiro entraves às compras mais mencionados por consumidores foram transtornos relacionados ao frete, como descumprimento de prazo (queixa mencionada por 44% dos entrevistados) e demora na entrega (43% de citações).
“No decorrer do primeiro semestre, aqui no Brasil, a inflação mostrou um aumento nos alimentos. Antes ela comprava refrigerante ou suco, aí ela começou a trocar por produtos de menor valor agregado, acaba comprando limão para adoçar sua bebida”, exemplificou Luciana Medeiros, sócia da PwC Brasil.
“Vai reduzindo até não comprar mais. Então isso que foi acontecendo com o consumidor no decorrer desse primeiro semestre. Na verdade, isso começou em dezembro, o mercado sentiu bastante isso, a troca de itens, sempre por produtos de menor valor agregado, de menor custo, até o consumidor ou parar de consumir o produto, além da troca de marca, ou então ficar só com uma coisa, o valor dele reduzido.”
Os alimentos comprados em supermercados para consumo no domicílio acumularam um aumento de 17,37% nos 12 meses encerrados em agosto, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O preço do óleo diesel, que afeta o custo do frete, acumulou um encarecimento de 58,81% no período de um ano, de acordo com o IPCA-15.
Além da inflação de alimentos e de problemas na entrega, Medeiros lembra que os consumidores também sentiram os impactos da desorganização da cadeia de suprimentos sobre a experiência de consumo em alguns segmentos, como a falta de produtos ou fila de espera, especialmente por automóveis e equipamentos eletrônicos.
Segundo a empresa de consultoria e auditoria, as perspectivas são positivas para o varejo no médio prazo. No Brasil, 70% dos entrevistados afirmaram terem aumentado suas compras online durante a pandemia, e 55% dos consumidores declararam que ampliarão ainda mais as compras online nos próximos seis meses, enquanto 36% esperam manter os níveis atuais. Um terço dos entrevistados (34%) planeja expandir seu consumo em lojas físicas, e 45% preveem manter o nível atual de consumo.
“Realmente as pessoas estão com tendência a sair de casa, e fazer até mesmo um programa em relação a essa visita física nas lojas”, justificou Medeiros.
A ampliação de medidas de transferências de renda para a população deve beneficiar mais a aquisição de itens essenciais que supérfluos, como o segmento de alimentos, avaliou Luciana Medeiros. “Porque no outro (pagamento de auxílio emergencial), ele foi pra isso, mas as pessoas começaram a adquirir linha branca, fogão, geladeira, esse tipo de coisa. Agora neste, como ficou um período sem receber, a gente acredita que esse valor vá direto pro (segmento) alimentar”, previu Medeiros.
O levantamento apontou que 65% dos consumidores brasileiros indicaram alguma disposição de pagar mais por produtos produzidos localmente ou no próprio País, embora apenas 35% acreditem que os itens nacionais tenham maior qualidade que os concorrentes internacionais.
Quanto ao perfil do consumidor, os jovens são especialmente mais interessados e exigentes quanto a adquirir produtos de empresas com boas práticas de ESG (governança ambiental, social e corporativa) e conteúdo local. Segundo a PwC, as gerações Y e Z são consumidores muito mais propensos a considerar esses fatores nas decisões de compra.
Cerca de quatro em cada dez entrevistados no Brasil dizem que o ESG geralmente afeta suas decisões de compra, e os fatores ambientais são os que menos tendem a influenciar. Para 70% dos consumidores brasileiros, a transparência nas práticas de negócios é um fator de influência importante nas decisões de compra; 46% veem como relevante a empresa admitir erros do passado; e 49% dos entrevistados dizem que os fatores sociais afetam suas decisões de compra.
A pesquisa Global Consumer Insights, realizada semestralmente pela PwC, ouviu apenas consumidores a partir de 18 anos que fizeram compras online pelo menos uma vez no ano anterior. A edição de junho de 2022 ouviu 9.069 consumidores em 25 países e territórios, sendo 502 deles no Brasil.
Tribuna do Norte