Quem precisou se internar no Hospital Walfredo Gurgel, maior hospital de traumas do Rio Grande do Norte, nas últimas semanas está enfrentando corredores lotados de macas com pacientes à espera de procedimentos. A paralisação dos anestesistas, que começou no dia 15 de dezembro, agravou a situação dos pacientes e dificultou para quem recorre ao pronto-socorro. Tudo por causa da falta de pagamento da parte do governo do Estado e da Prefeitura do Natal. Ontem (12), o Governo do Estado anunciou o pagamento à categoria para retorno imediato, mas somente nesta sexta-feira (13) haverá uma definição.
A paralisação suspendeu o atendimento de cirurgias e exames eletivos. Nesse período, os profissionais estão mantendo os serviços de urgência e emergência, além das escalas de plantão. Relatos de funcionários do Hospital Walfredo Gurgel indicam que a situação é caótica, sem vagas para acomodar os pacientes. Na tarde de ontem (12) chamava a atenção a fila de ambulâncias de diversos municípios na frente do hospital, além das unidades do Samu paradas com suas macas presas, já que os pacientes que chegam não encontram leitos disponíveis e precisam permanecer nessas macas.
Do município de Extremoz, João Eusébio, 41 anos, não sabia quando a sua sogra, Sebastiana Galdina, de 85 anos, realizaria uma cirurgia devido a uma fratura no fêmur. A idosa deu entrada no Walfredo no dia 7 de janeiro e ocupou uma maca da Samu por quatro dias. Na quarta-feira (11) foi transferida para uma cama do hospital em outro corredor. “Ela está sem poder se locomover, tendo que fazer as necessidades fisiológicas na cama, e, em virtude da superlotação, o pessoal da enfermagem tem grande dificuldade de fazer a higienização dela e está sem previsão (de realizar o procedimento), em virtude da greve dos anestesistas”, explicou o genro.
No mesmo corredor, ele diz que cerca de trinta pessoas entre pacientes e acompanhantes dividiam o espaço e reconhece o esforço dos profissionais diante da alta demanda, porém, com a demora, o quadro de dona Sebastiana está se agravando. “Como ela já é idosa, há um quadro de alucinações e está começando a ficar com assaduras nas costas”, conta João Eusébio.
A aposentada Maria Lúcia de Carvalho, 62, também buscava informações da sua sogra, de 88 anos, que sofreu uma queda pela manhã em casa, no bairro do Bom Pastor em Natal, mas voltou para casa sem saber quando a paciente estaria liberada de um procedimento de redução de fratura no braço. “Desde as 10 horas que ela espera o procedimento simples para recolocar o osso no lugar”, comentava a nora.
A incerteza se deve ao fato de que havia outras quatro pessoas que chegaram ao hospital com fratura exposta e seriam atendidas antes, já que o quadro dessas é mais grave. A sogra de dona Maria Lúcia ainda precisaria realizar um exame de raio x para saber se o procedimento funcionou, depois imobilizar o braço e tomar medicação.
Nas unidades com profissionais da cooperativa, também estão suspensos os exames eletivos que necessitam de aplicação de anestesia nos pacientes. Estes estão em situação ainda mais delicada e boa parte são idosos, o que torna o contexto mais preocupante.
A aposentada Maria José Dias de Araújo, de 82 anos, sofreu uma fatura no fêmur e chegou ao hospital desde a segunda-feira (9). Até ontem ainda não tinha conseguido realizar a cirurgia, segundo sua filha, Elza Dias. “Ela está estável. Sente muita dor, mas está sendo medicada. Porém, fica nos corredores vendo pessoas doentes, feridas, sem saber se pode se infectar de outras doenças, exposta na hora de higienizar, trocar a roupa. É uma situação constrangedora”, frisou.
Anestesistas decidem hoje se retornam
Em nota, a Cooperativa do Anestesiologistas do Rio Grande do Norte (Coopanest-RN) informou que foi comunicada de que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap/RN) realizou o pagamento referente ao mês de agosto, mas que fica em aberto o mês de julho. “Amanhã (hoje), após a reunião marcada com a Secretaria Municipal de Saúde (de Natal), às 9h, a direção da Coopanest irá se reunir para decidir o fim da paralisação e sobre o retorno imediato das atividades. Os anestesiologistas acreditam na intenção do Governo do Estado e da Prefeitura de Natal em resolver essa situação insustentável para todos”, diz a nota.
Enquanto não houver definição, só os serviços contratados de urgência e emergência continuam sendo atendidos, enquanto que os de procedimentos eletivos continuam suspensos pela rede pública. Isso tem impactado no Hospital Walfredo Gurgel, segundo a Sesap/RN.
De acordo com o Sindicado dos Servidores da Saúde (Sindisaúde/RN), a situação é caótica. “Na ortopedia, temos oito pacientes aguardando procedimentos de urgência no centro cirúrgico, pacientes com mais de 24 horas de espera e uma faixa de 80 pacientes internados no pronto socorro. São aproximadamente dez pacientes para cada técnico, ou seja, sem nenhuma condição de se prestar uma assistência de qualidade”, informou João Assunção, da diretoria do sindicado.
Os anestesiologistas cooperados reivindicam o pagamento de parcelas em atraso do Governo do Estado referentes aos meses de julho e agosto, o que representaria R$ 2.063.559,90 na amortização da dívida; e um débito em torno de R$ 600 mil da Prefeitura do Natal.
Tribuna do Norte