Clívia Fernandes é mãe de dois filhos e avó aos 36 anos. Desde a infância, sentia desejo de empreender. Um ímpeto que a despertara cedo. No entanto, outros pontos de sua vida se tornaram prioridade quando foi mãe aos 15. Com o nascimento do primeiro filho, se viu frente a necessidade de aproveitar qualquer oportunidade que pudesse lhe gerar alguma renda. Foi empregada doméstica por curtos períodos de tempo, tentou empreender com venda de alimentos e em seguida, começou a produzir bijuterias, artesanatos e crochês, revendeu cosméticos, mas os projetos se dispersaram pouco depois do início. Em 2023, no entanto, participou do “Senac Conectando Mulheres”, novo projeto de requalificação profissional, com foco no incentivo ao empreendedorismo feminino, o que mudou sua vida.
A iniciativa do Senac leva treinamentos para mulheres do interior do Rio Grande do Norte, uma das muitas ramificações do serviço de aprendizagem oferecido no Estado. E foi em uma das primeiras edições, no município de Senador Georgino Avelino, aproximadamente 57 km de Natal, que Clívia encontrou a oportunidade da sua vida que está ajudando a alçar vôos mais altos. “Eu sempre quis. Sempre tive dentro de mim que queria empreender, mas não tinha nenhum conhecimento. O curso foi uma virada de chave. Foi quando eu percebi que estava olhando para as pessoas erradas”, detalha.
Em parceria com as prefeituras dos municípios, através das secretarias de Assistência Social, o programa é oferecido gratuitamente, atendendo pessoas de baixa renda. Com o curso “Empreendedorismo e Negócios de Oportunidades”, de 16 horas de duração, direcionado a capacitar sobre demandas, tendências e habilidades necessárias para o sucesso de microempresas lideradas por mulheres, as duas primeiras edições do programa devem se estender até novembro de 2023, abrangendo também o município de Boa Saúde.
A primeira turma, esta que contou com a participação de Clívia, foi finalizada nesta quarta-feira (27). Foram entregues 25 certificados a mulheres que buscam obter qualidade de vida, ao mesmo tempo que conciliam atividades domésticas, bem como outros empregos, pontua Dalliany Rocha, coordenadora do projeto e gestora do Senac. “Muitas delas trabalham e empreendem, e por isso precisam conciliar. Então, cada vez mais as mulheres estão buscando alternativas para poder mudar de vida, ter independência financeira para também se desenvolver. Acredito que esse histórico vai só evoluir, pois é um processo de evolução e está em construção”, disse.
O projeto de conexão feminina foi aberto em consonância com uma demanda mundial que, por sua vez, não envolve apenas mulheres. O Global Entrepreneurship Monitor aponta que o número de novos negócios que nasceram como solução para a perda de renda durante a pandemia saltou de 37,5% para 50,4% – mesmo nível de 18 anos atrás. Isso significa que, com a perda de renda devido à falta de trabalho durante os anos pandêmicos, muitas pessoas decidiram abrir seus próprios negócios, entre elas, muitas mulheres.
Com a abertura de empresas ou microempresas vem também as dificuldades. Para Clívia, uma dessas dificuldades era a falta de incentivo. Por muito tempo, ela relata, viveu em uma realidade na qual sentia descrédito de pessoas próximas e diz que seus sonhos não recebiam incentivo de mais ninguém. “É muito difícil viver em uma realidade que ninguém acredita em você, onde falam para você deixar de ser sonhadora, que ninguém acredita em você e você mesma desacredita”, relata. No entanto, desistir não é uma alternativa e o Conectando Mulheres a fez enxergar novas possibilidades e colocar em prática projetos que estavam guardados.
“Eu nunca acreditei que mesmo estudando conseguiria fazer algo, e aí chegou esse curso do Senac. A forma como ele foi abordado, o jeito que elas trabalharam, o olhar que elas trouxeram para o empreendedorismo fez com que eu visse a oportunidade de pegar os meus sonhos e tudo aquilo que eu estudei durante todo esse tempo e dizer que agora eu vou fazer acontecer”, complementa Fernandes.
Hoje, Clívia Fernandes trabalha como designer estrategista e social media ajudando outros empreendedores a se posicionarem melhor nas redes sociais e aumentarem a venda de seus produtos. Sua meta é abrir uma agência futuramente. Disse que uniu sua experiência com vendas ao conhecimento que tem adquirido ao estudar design mesmo que tenha se privado de dar um passo à frente. “O meu maior desafio sempre fui eu. Eu fui o meu maior empecilho e agora eu não sou mais”, finaliza.
Tribuna do Norte