Em 2016, no auge da Operação Lava Jato, a advogada Rosângela Wolff Moro criou uma página no Facebook chamada “Eu moro com ele”. O objetivo era reunir as homenagens feitas às investigações e, especialmente, os elogios direcionados ao seu marido, o então juiz federal Sérgio Moro, que cuidava dos casos em Curitiba. A página acabou desativada com a proximidade das eleições de 2018, mas o casal continua com forte presença nas redes sociais. No mês passado, após a mulher “pegar no pé”, Moro abriu uma conta no Instagram, onde já é seguido por 1,1 milhão de pessoas.
Rosângela tem 305 mil seguidores no seu perfil. Lá, publica fotos de viagens e registros de encontros com o marido, e tece comentários sobre questões que abalaram o Judiciário, como a criação do juiz de garantias e o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.
Também já simulou estar atrás das grades, espaço para onde foram despachados investigados por decisões de Moro.
Especializada em Direito Tributário, a advogada rejeita o rótulo de “digital influencer”, mas abraça a alcunha de “fã número 1” do marido. Ela recebeu o Estado na última quarta-feira para uma rara conversa em Brasília, no escritório da Federação Nacional das Apaes, entidade voltada para a ajuda às pessoas com deficiência intelectual, uma de suas bandeiras pessoais.
Diante do clima de radicalização política no País, Rosângela acha que não dá para levar tudo “a ferro e fogo” na internet.
Abstinência. Católica, ela carrega na carteira um medalhão com a imagem de duas santas: Terezinha das Rosas e Rita de Cássia. Tenta se manter alheia às guerras políticas de Brasília, marcada na última semana por mudanças no ministério de Bolsonaro e pelo avanço militar na equipe. Sobre o governo, Rosângela é só elogios, inclusive à campanha da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que traz a abstinência sexual como uma das formas de evitar a gravidez precoce.
“A gravidez precoce é um problema, traz consequências, faz com que a jovem perca parte da sua vida. Tudo tem a sua fase”, afirmou a advogada, mãe de dois filhos. Sobre Bolsonaro, avalia que, ao contrário dos antecessores, o presidente não fez loteamento político dos cargos e evitou o “toma lá, dá cá”.
No mês passado, o presidente deu sinais de que esvaziaria o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ameaçou retirar funções de Moro, mas não foi adiante. A investida ocorreu justamente no momento em que a popularidade de Moro ultrapassa a dele. O ex-juiz federal de Curitiba é cotado como eventual candidato ao Palácio do Planalto, em 2022.
Rosângela, no entanto, garante que Moro e o chefe formam um time “O ministro até brincou esses dias: ‘Ah, vou tatuar na testa que não vou ser o presidente’. O ministro é da equipe do presidente Jair Bolsonaro, dá total apoio para o presidente, inclusive no futuro aí, na reeleição”, disse, referindo-se ao marido pelo cargo que ocupa.
Ela opta pela diplomacia quando a reportagem lhe indaga como se define. Bolsonarista ou morista? “Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro. Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”, respondeu.