Política

Bolsonaro ironiza rivais e busca reeditar tática de 2018

Deboches com a saída de João Doria (PSDB) da corrida presidencial, emojis de gargalhadas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e respostas irônicas à cantora Anitta. O presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçou o tom de “lacrador” nas redes sociais com a proximidade das eleições.

O termo lacrar ganhou popularidade na internet e virou sinônimo de arrasar, sair-se muito bem em algo -tão bem a ponto de deixar alguém sem argumentos e encerrar o assunto.

Especialistas apontam ainda outros motivos para a estratégia do presidente: ela mantém a militância bolsonarista ativa e dá visibilidade para os temas que ele seleciona -e não a assuntos incômodos para Bolsonaro, como o aumento dos combustíveis e a inflação sobre alimentos.

Para a doutora em ciência política e coordenadora do Observatório da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais), Érica Anita Baptista, além de abastecer a militância, o tom debochado do presidente tenta atrair de volta eleitores que votaram nele e se arrependeram.

“Essa ironia vem para reforçar um conjunto de características dele que ficaram marcadas em 2018. Elas o afastam da política tradicional que ele tanto critica, constroem a imagem de homem do povo e reforçam o ‘nós contra eles’, a figura antissistema”, afirma.

David Nemer, pesquisador da Universidade Harvard e professor associado na Universidade de Virgínia, também vê paralelo com a estratégia das últimas eleições.

“Em 2018, Bolsonaro contou com uma rede de páginas e contas que faziam essa zoeira. É uma forma de humanizá-lo e também de engajar com o público mais jovem. Apesar de ele nunca ter saído do modo campanha, isso está sendo intensificado.”

Carlos Bolsonaro escancarou recentemente suas divergências com a estratégia de marketing do centrão -tida como mais profissional- ao se queixar do slogan da primeira inserção do PL na TV, que teve seu pai como protagonista. “Vou continuar fazendo o meu aqui e dane-se esse papo de profissionais do marketing”, escreveu o vereador.

No mundo artístico, a cantora Anitta já havia dado seus palpites sobre as estratégias de Bolsonaro nas redes. Crítica do presidente, ela foi alvo de provocações dele e decidiu bloqueá-lo.

Segundo Anitta, a estratégia de Bolsonaro é ganhar relevância e repercussão no Twitter às custas do perfil dela. Atualmente, 8,2 milhões de usuários acompanham a página oficial do presidente. Já a cantora tem 17,2 milhões de seguidores.

Parte do engajamento, dizem especialistas, vem com a ajuda involuntária dos críticos. “Quando ele debocha de um adversário, ele mexe com as emoções dos oponentes. O post acaba sendo compartilhado ou xingado por pessoas que não gostam dele”, explica a pesquisadora em democracia digital Maria Carolina Lopes.