O Brasil caiu, pelo segundo ano seguido, no ranking de liberdade de imprensa da organização não governamental “Repórteres Sem Fronteiras”, informou a entidade nesta terça-feira (21). O país agora ocupa a posição 107 de 180, atrás de Angola (106), Montenegro (105) e Moçambique (104).
O relatório da organização afirma que a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, “deu início a uma era particularmente sombria da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil”. Naquele ano, o país ocupava a posição 102 na lista, caindo para a 105 em 2019.
“O presidente Bolsonaro, sua família e vários membros de seu governo insultam e humilham constantemente alguns dos prncipais jornalistas e meios de comunicação do país, alimentando um clima de ódio e suspeita em relação ao jornalismo no Brasil”, afirma a ONG.
“A propriedade da mídia continua muito concentrada, especialmente nas mãos de famílias de grandes empresas que estão, com frequência, intimamente ligadas à classe política. A confidencialidade das fontes dos jornalistas está sob constante ataque e muitos repórteres investigativos foram submetidos a processos judiciais abusivos”, acrescenta a entidade.
“Com ameaças e ataques físicos, o Brasil continua sendo um país especialmente violento para a mídia, e muitos jornalistas foram mortos em conexão com seu trabalho. Na maioria dos casos, esses repórteres, apresentadores de rádio, blogueiros ou provedores de informações de outros tipos estavam cobrindo histórias relacionadas à corrupção, políticas públicas ou crime organizado em cidades pequenas ou médias, onde são mais vulneráveis”, diz ainda a “Repórteres Sem Fronteiras”.
Apesar de críticas feitas ao presidente Donald Trump, os Estados Unidos subiram no ranking da organização: passaram a ocupar o 45º lugar, três acima do 48º do ano passado.
“A liberdade de imprensa nos Estados Unidos continuou sofrendo durante o terceiro ano do presidente Donald Trump”, afirmou a “Repórteres Sem Fronteiras”.
A entidade ressaltou que “prisões, ataques físicos (…) e assédio a jornalistas continuaram em 2019” nos EUA, apesar de o número de jornalistas presos no ano passado ter sido “ligeiramente menor” do que no ano anterior, segundo a organização.
“Sob o presidente Trump, a Casa Branca substituiu estrategicamente as formas tradicionais de acesso à imprensa por aquelas que limitam a capacidade dos jornalistas de fazer perguntas à administração”, disse a ONG.
“O último briefing de imprensa na Casa Branca televisionado diariamente e liderado por um secretário de imprensa ocorreu em março de 2019, e, desde então, o governo federal fez várias tentativas de negar o acesso a jornalistas e veículos específicos a outras oportunidades de interação com a imprensa”, afirmou a entidade.
A ONG também alertou que a pandemia de coronavírus está “ampliando” as ameaças à liberdade de imprensa em todo o mundo, segundo a agência de notícias alemã “Deutsche Welle” (DW). A entidade disse que alguns regimes autoritários se aproveitaram do surto para impor medidas extraordinárias, e também acusou a China e o Irã de censurarem informações sobre o vírus.
“O surto de coronavírus revelou a lição mais importante dessa crise, a de que a censura na China não diz apenas respeito ao povo chinês. Também é uma ameaça para qualquer pessoa na Terra”, disse o chefe da Repórteres Sem Fronteiras no Leste Asiático, Cedric Alviani, ao correspondente da DW William Yang.
“Certamente existe uma relação estreita entre o regime e a censura, e o fato de eles terem tentado esconder todas as informações sobre a epidemia durante o primeiro mês é a melhor prova disso”, concluiu.