Somente a rede pública estadual do Rio Grande do Norte recebeu 8 mil novos alunos durante a pandemia do novo coronavírus. O número saltou de cerca de 208 mil para 216 mil ao longo de cinco meses, mesmo com as escolas fechadas.
Para o secretário estadual de educação, Getúlio Marques, o principal motivo para as matrículas seria a migração dos jovens das escolas privadas para as públicas.
“Não podemos afirmar que todos as matrículas foram por isso, mas muitos ficaram sem condição de pagar mensalidade, ou por outro motivo pessoal, resolveram fazer essa mudança, porque os pais têm a obrigação de manter os filhos matriculados na escola. Não sabemos quantos foram nas redes municipais, mas os gestores também sentiram essa mudança”, afirma.
Nesta semana, o estado anunciou a quarta prorrogação da suspensão das aulas presenciais, iniciada em março, com novo prazo para 18 de setembro. A data, porém, não significa necessariamente o dia de retorno às aulas. Até lá, haverá várias análises sobres o comportamento da pandemia do estado. O governo considera que liberar as aulas agora seria colocar mais 1 milhão de pessoas à exposição do vírus.
O secretário afirma que entende a preocupação das escolas privadas, que defendem a volta às aulas como alternativa à crise enfrentada por elas, principalmente com o fim da ajuda do governo federal para pagamento de parte dos salários dos funcionários. “O sindicato nos informou que há pelo menos 38 escolas que estão preparadas, mas nem todas as escolas privadas também tiveram condições de se preparar”, afirma. Da mesma forma, ele considera que parte das escolas públicas já está pronta para o retorno.
Por outro lado, o secretário de Educação considera que a liberação só será feita quando o comitê científico do estado considerar o ambiente seguro, ainda que parte das escolas abram antes e outras depois.
“A escola pode ser um ambiente seguro, mas esse aluno tem o deslocamento até ela, no ônibus – mesmo em escola particular há alunos que vão de ônibus, e podem estar levando a contaminação para os colegas, para escola, para um local que está seguro”, disse. “Consideramos que o direito à educação é fundamental, mas antes vem o direito à vida. Existe muita discussão política, mas a não vamos entrar nela. Nossa discussão é científica”, argumentou.
Pessoalmente, Getúlio Marques acredita que as aulas presenciais não vão voltar a acontecer no estado em 2020. Porém, afirma que no dia que o governo receber o parecer favorável do comitê científico montado para tratar sobre a pandemia, o comitê do setor da Educação vai decidir pela retomada às atividades. “Foi o que conversei com as 15 entidades que fazem parte do comitê, na nossa última reunião. Esse tem que ser nosso compromisso”, pontuou.
Outro fator de preocupação são os professores que pertencem ao grupo de risco. São cerca de mil, que representam entre 7% e 8% dos profissionais que atuam nas redes de ensino. Porém, segundo o secretário, eles poderão continuar trabalhando, visto que ele acredita em um modelo “híbrido”, no retorno às aulas, com atividades presenciais e virtuais.
Questionado se o ano de 2020 está perdido, Marques considera que o ano letivo foi “prejudicado, mas não totalmente perdido”, porque parte do material que foi utilizado nas atividades remotas poderá ser usado para avaliar os alunos e contar como parte da formação no ano letivo. O formato ainda está em discussão, mas ele considera que, no retorno, as escolas precisarão avaliar o nível de aprendizagem dos alunos, focar nos conteúdos definidos como essenciais e “trabalhar” dobrado, para recuperar o tempo perdido. Uma “normalidade” só seria sentida de 2022 em diante, ele considera.
O secretário também disse que acredita que novos modelos de educação, mais focados na aprendizagem, e usando mais as tecnologias, passará a vigorar após a pandemia. Ele citou o exemplo das salas de aula virtual, que existem no portal Sigeduc, usado pela rede estadual de ensino. “Essa ferramenta existia desde 2017, mas mal era usada. Agora, houve um crescimento de 1000%”, disse.
Segundo o secretário, ao contrário das universidades públicas do estado, a rede básica não teria recursos para financiar compra de equipamentos para alunos em situação de vulnerabilidade social, mas afirmou que o estado irá fazer uma contratação de um canal de TV para transmitir aulas para todo o estado. “Inclusive para os alunos que vão fazer Enem, que vão ter aulas também aos sábados”, pontuou.