Em dezembro do ano passado, os cariocas viram de perto o que os potiguares já sabiam há muito tempo: os bordados do Seridó são pura arte. Após uma longa temporada no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), no Rio de Janeiro, a exposição “Bordado de Caicó” chega a Natal, agora no Centro de Referência do Artesanato do Rio Grande do Norte (Crarn), na Cidade da Criança. A mostra promovida pelo Sebrae e parceiros, celebra a diversidade e a tradição de uma arte secular no RN, conhecida no Brasil e no mundo por sua beleza, regionalidade, qualidade e acabamento.
A exposição é resultado de criações desenvolvidas em oficinas dirigidas pelo curador Renato Imbroisi, junto com a designer e ilustradora Lui Lo Pumo, que auxiliaram as bordadeiras na confecção de novas peças temáticas. Os temas representam o universo cultural e ambiental da caatinga, com novos riscos, inspirados na canção “O Rabo do Jumento”, do cantor e compositor Elino Julião, nascido em Timbaúba dos Batistas.
O formato da mostra local foi adaptado daquele exibido no Rio de Janeiro, mas segue oferecendo uma abrangente representação do talento de 2.700 artesãos da região do Seridó. São mais de 200 peças bordadas com referências culturais da região. Além das peças de decoração, moda, cama, mesa, banho e enxoval para recém-nascidos, a exposição traz novas linhas de produtos – inclusive com vídeo do desfile da coleção “Bonito pra Chover”, realizada no ano passado. Foi produzido ainda um documentário sobre os bordados pelo Sebrae, que pode ser assistido na exposição.
Doze pontos
O bordado de Caicó se caracteriza por ser produzido em máquinas de costura de pedal. Para manter seu trabalho dentro das especificações do bordado caicoense autêntico, as artesãs só podem utilizar 12 pontos: ponto cheio, richelieu, matiz, costurado, rococó à máquina, aberto ou bainha, turco, rústico, quebra-agulha/espinho, crivo, granito, e o rococó, que ainda é feito a mão. É definido geograficamente por ser praticado em 12 cidades do Seridó potiguar: Caicó, Timbaúba dos Batistas, São Fernando, Serra Negra do Norte, Acari, São João do Sabugi, Jardim do Seridó, Ipueira, Cruzeta, São José do Seridó, Jucurutu e Ouro Branco.
A coleção foi baseada nas duas “estações” do sertão: a seca, quando tudo fica árido, e a chuva, quando tudo fica verde e alegre. Nas peças há imagens bordadas de cactos, chananas, o ‘melão caetano’, as penas do carcará, folhas do juazeiro e da timbaúba, as rolinhas, o galo de campina, entre outros símbolos do sertão potiguar.
A bordadeira Iracema Nogueira Batista foi uma das artesãs que participaram da concepção da mostra. Nascida em Timbaúba dos Batistas, ela tem 62 anos de atuação no ramo, e foi uma das responsáveis pelos bordados potiguares obterem, em 2020, o Signo de Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Iracema declarou na ocasião que a exposição é uma bela vitrine confirmadora da qualidade do trabalho das bordadeiras potiguares, de seu saber fazer. “A gente não sabia que tinha um potencial tão grande, mas agora já temos consciência disso”, afirmou. A monografia que a artesã fez para a conclusão de seu curso de geografia, é hoje um trabalho de referência nacional sobre as bordadeiras sertanejas e sua arte. Ele sempre participa de cursos e oficinas para repassar essa arte às novas gerações.
Ano passado, o Sebrae realizou ações de capacitação para as artesãs, por meio do projeto em parceria com o Instituto Riachuelo para formação e aperfeiçoamento nos pontos do bordado de Caicó e aulas de risco.
Serviço:
Exposição “Bordado de Caicó”. Até 11 de junho, na Cidade da Criança. Visitações de terça a sábado, das 14 às 18h.