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Ginástica cerebral é capaz de monitorar a função cognitiva; entenda

Foto: Alex Régis

Um cérebro “em forma” é capaz de uma sintomia melhor com o corpo, e ser mais resistente  aos transtornos e doenças neurodegenerativas.  Uma forma de monitorar de perto a função cognitiva, é a prática da chamada ginástica cerebral, uma série de atividades estimulantes capaz de melhorar habilidades como memória, concentração,  raciocínio e criatividade. Com respaldo da neurociência, esses exercícios aumentam a reserva cognitiva, deixando o cérebro mais ágil para realizar suas funções. Um treino para a mente. 

O estímulo da neuroplasticidade cerebral é o que ajuda a desenvolver a reserva cognitiva robusta almejada pelos exercícios da mente. Segundo o psicólogo Diego Felipe Sobrinho, o cérebro tem a capacidade de se modificar a partir de variados estímulos, sendo essa ginástica específica capaz de fortalecer as conexões entre os neurônios. “O treino cerebral possibilita entender, melhorar, capacitar e evoluir tanto a memória quanto a saúde mental em geral”, diz. 

“A ginástica cerebral é uma prevenção e uma promoção de saúde. Ela oferece benefícios futuros”, afirma Diego, que também é gestor pedagógico na sede natalense da Supera, uma rede de escolas especializadas em estimulação cognitiva, criada há 17 anos no interior de São Paulo, e existente em todo país. No momento em que há uma conscientização geral sobre a importância da saúde mental, há também o interesse crescente sobre ações como essa. 

Malhação cerebral 

Para a “malhação” do cérebro,  é necessário tirá-lo da zona de conforto. A metodologia da Supera, por exemplo, lança mão de uso de ábaco (instrumento de cálculo milenar) e dezenas de jogos de tabuleiro e cartas, além de apostilas e dinâmicas em grupo. O velho ábaco é uma das principais ferramentas do curso,   levando os alunos a fazer cálculos de forma prazerosa e bem diferente do habitual.

Diego explica que o ábaco, segundo as pesquisas dos neurocientistas e neurologistas, é capaz de treinar o cérebro humano para movimentos que conduzem à autonomia.  “Através das contas a pessoa amplia a memorização, e deixa o raciocínio mais rápido e lógico,  além de beneficiar a  coordenação motora”, explica.

Já os jogos de tabuleiro, individuais ou em grupo, desenvolvem habilidades cognitivas e socioemocionais, como estratégia, relacionamento e autoconfiança. As dinâmicas em grupo são mistas. “Cada aula tem uma estrutura diferente. Algumas são em pé, as pessoas se abraçam, ou são surpreendidas por caixas misteriosas, tentam descobrir o cheiro ou o gosto de algo sem ver o que é, entre outros exercícios que mexem com as percepções da mente”, explica o psicólogo. 

Há atividades que podem ser feitas também em casa, os chamados exercícios “neuróbicos”. Atos como escovar os dentes com a mão não dominante, escrever com a mão não dominante, tomar banho, se vestir ou se maquiar de olho fechado, andar para trás, tocar um instrumento de outra maneira, mudar rotas de caminhada, etc. “São pequenos gestos que tiram o cérebro do automático, da repetição preguiçosa, e o desafiam a mudar”, ressalta. 

O público que procura a ginástica cerebral é diverso: desde crianças em idade escolar e adolescentes até jovens adultos. Mas a grande maioria é de idosos. “As motivações maiores do público idoso são relativas à memória. Eles se preocupam bastante com as questões do esquecimento”, diz Diego. Ele ressalta que o esquecimento é natural, que é preciso esquecer de algumas coisas para lembrar de outras mais importantes. 

Claro, há o medo natural das doenças neurodegenerativas que costumam aparecer em idades mais avançadas. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência, a maioria sendo o Alzheimer. Diego afirma que a ginástica cerebral ajuda na prevenção e também quando a doença já está diagnosticada. “Não é só o método, mas também a socialização. Os idosos vêm em busca de conforto cerebral”, diz. 

Memórias em dia 

Há pessoas que não se esquecem de melhorar a memória a cada dia. O geólogo Ailton Aviano, 78 anos, é uma delas. “Sou  inquieto por natureza. Aos 60, decidi me formar jornalista. Minha memória ainda é muito boa, mas eu não quis que a ferrugem aparecesse, por isso procurei a ginástica cerebral”, conta. Ele encara tudo como um exercício. Leva deveres pra casa, lê muito, faz jogos de memória, socializa. “No tempo da minha mãe, um cara da minha idade já era visto como carta fora do baralho. Isso mudou, felizmente”, diz. 

Myrthes Rêgo, do alto dos seus 94 anos, faz ginástica cerebral há quatro. Chegou à escola pela dica de uma sobrinha – que ela não levou muito a sério de primeira. “Eu disse que a minha memória ainda era muito boa, não precisava de nada. Mas ela queria que eu tivesse alguma distração, então eu fui. Experimentei só um dia e adorei”, diz. Fã do triminó (um dominó de três pontas) e de caçar palavras, ela gosta da socialização e de levar dever pra casa. “Gosto de resolver lições, pesquisar no computador, falar com os professores. É muito bom não ir dormir com a memória parada”, afirma.

Tribuna do Norte