As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 começaram nesta segunda-feira (11) em meio aos pedidos de adiamento feitos por alguns estudantes. Para presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, o Ministério da Educação (MEC) “quer fechar as portas das universidades públicas para os mais pobres do Brasil” mantendo o calendário da prova, apesar do cenário de pandemia.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) abriu as inscrições para o Enem 2020 depois de ter divulgado uma propaganda com o mote “O Brasil não pode parar”. A campanha pede para os candidatos estudarem como conseguissem para as provas, que estão marcadas para o mês de novembro. Um levantamento exclusivo do GLOBO que aponta 6,6 milhões de estudantes não tem acesso à internet — a maioria deles na rede pública.
Candidato ao curso de jornalismo, o potiguar Wagner Santos, 19, é favorável ao adiamento, mas revela descrença na mudança das datas. “Ao longo do ano, o ministro da Educação (Abraham Weintraub) fez declarações inadmissíveis. Então, por que esperar que a pessoa a qual deveria nos representar e nos ajudar faria algo do tipo? Ele está preocupado consigo mesmo e não com os 5 milhões de estudantes prejudicados”, desabafa.
A fim de legitimar o adiamento do exame, a Ubes e a União Nacional dos Estudantes (UNE) entraram com um mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ), nesta segunda.
Para o presidente da UNE, Iago Montalvão, é muito grave a posição do MEC em manter as datas. “O MEC continua ignorando a solicitação de diversas entidades da educação pelo adiamento do Enem, que vão desde estudantes até professores, secretários de educação, reitores e parlamentares de diversos partidos”, destaca. As entidades alegam que a mudança de data visa não prejudicar os milhares de estudantes que não tem acesso a meios de estudo com as escolas e cursinhos preparatórios presenciais suspensos há mais de um mês.
Com o desejo de cursar audiovisual, Michelle Ariany, 36, questiona o governo federal alegar “que a vida não pode parar, mas não se preocupa com pessoas que não tem como estudar, porque vivem em situação de risco, porque não tem celular e computadores com capacidade para adquirir programas para teleaulas, que não tem dinheiro para comprar livros ou qualquer outra coisa que possa auxiliar nos estudos”.
A estudante Tatyanny Arruda, 19, diz que “sendo um pouco radical, sou a favor até do cancelamento do Enem 2020, pois pensando como um todo, milhares de estudantes serão prejudicados pela falta de aulas. E mesmo aqueles que tem o privilégio das aulas à distância, não terão, provavelmente, o mesmo desempenho que teriam com as aulas presenciais”.
Com o objetivo de gerar maior mobilização para o adiamento, a UNE, em parceria com a Ubes, articula o protesto virtual #AdiaEnem para esta sexta-feira (15), que já conta com 150 mil signatários. A data escolhida serve, também, para lembrar do “Tsunami da Educação” que levou mais de um milhão de pessoas as ruas de todo o país em defesa das universidades brasileiras há exatamente um ano.
Confira o calendário Enem 2020:
- Pagamento da taxa de inscrição: 11 a 28 de maio;
- Inscrições: 11 a 22 de maio;
- Solicitação de atendimento especializado do Enem impresso: 11 a 22 de maio;
- Solicitação para tratamento pelo nome social: 25 de maio a 1 de junho;
- Divulgação do cartão de confirmação da inscrição, com os locais de prova: outubro;
- Provas presenciais: 1 e 8 de novembro;
- Gabarito e divulgação dos cadernos de questões: 11 de novembro;
- Provas do Enem digital: 22 e 29 de novembro;
- Divulgação do gabarito do Enem digital: 2 de dezembro;
- Resultado individual: janeiro de 2021.