”ORGULHO DO MEU SERTÃO”
Tenho sede do sertão, estou com fome do Seridó. Hoje, vou me esbaldar. Currais Novos está em festa. Mais um quilate de prata na sua emancipação. Prata da casa, tirada das minas daqui. Para quem não me conhece, sou neto de Adriana, Cipriano é meu avô. No alpendre da Bela Vista, avistando o Pico do Totoró, espero chegar a banda. Vai se apresentar no coreto, depois que Mons. Paulo terminar a Missa. Palco bom é o Guarany! Já vi muita banda ali. Padre Ausônio vem também, no carro do Maestro Caçote. Se der gente aqui, como dizem que vai dar no coreto, empanque carne para esse povo todo. Dr. Tomaz já disse que ninguém trabalha para ele, no dia de hoje; mandou fechar a Brejuí.
Quando passar essa festa, com tudo a que tem direito, com o Jesus Menino formado, na praça Cristo Rei, para desfilar, e sessão solene na Câmara, com discurso de Joabel Rodrigues, vou prosar com Zé Bezerra Gomes. Poeta bom que o Rio Grande do Norte já viu! Zila Mamede que o diga. Quero rever os Apertados e ver se aprendo a ler aquelas letras bem desenhadinhas! Se eu tiver a sorte de pegar o Casarão aberto, vou comprar os livros desses escritores daqui, para levar de lembrança. Por falar em lembrança, vou passar pelo cemitério. Quem sabe, um dia, não me deitarão por lá?! O futuro a Deus pertence. E é mesmo! Ninguém pensava que aquele arruado de casas, no aceiro dos currais, fosse dar no que é Currais Novos, agora… Jamais se pensou que o nome da velha fazenda fosse profecia da bela vista que se tem hoje…
Sim, eu já ia me esquecendo: só posso ir embora depois que falar com Pe. Onio. Ele chega de Cerro Corá, daqui a três dias, pelo menos foi o que Pe. Welson me disse. Vou deixar para ir na Matriz, pedir a bênção a Sant’Ana, no dia da viagem. Aproveitar para acender uma vela. Vou ter que descer do sonho e voltar para a saudade. Mas os Currais ficarão de pé, com a resistência das cercas de pedra, testemunhando a luta dos que trabalham por uma política sem vencedores nem bandidos. Política para todos! Tenho fé em Deus que volto, na procissão, de branco, pedindo paz. Pago uma promessa e dou os parabéns a Pe. Tércio, que fez 80 anos.
@gleiberdantas – Recife, 15 de outubro de 2015.