Educação

Professor do RN faz carreira de sucesso na Coréia do Sul

Foto: Arquivo pessoal

No universo acadêmico, há histórias que transcendem fronteiras e inspiram gerações. Uma dessas histórias é a do professor e diretor do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, Hamilton Varela, um natalense que  trilha uma carreira de sucesso no exterior, destacando-se como um renomado educador ao redor do mundo. Sua  trajetória é marcada por determinação, oportunidades e  uma paixão inabalável pela Química. Ele foi indicado como professor adjunto do Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwangju (GIST, Gwangju Institute of Science and Technology), na cidade de Gwangju, Coréia do Sul.

Nascido em 1973, Hamilton Varela cresceu em Natal, onde  seus pais, o professor Hélio Varela de  Albuquerque, da Engenharia Civil, e Maria Lúcia Brandão,  do curso de Enfermagem, ambos da UFRN, o incentivaram  desde cedo a buscar o conhecimento e a excelência  acadêmica. Ele estudou no Colégio Salesiano São José, na Ribeira, durante o ensino fundamental e médio, e, na época do vestibular, foi confrontado com a difícil escolha entre Matemática e Química. Influenciado pelo pai, optou por cursar Engenharia Química na UFRN, dando início a uma jornada repleta de descobertas e conquistas.

Durante sua graduação em Natal, o potiguar teve a oportunidade de realizar uma iniciação científica no  Departamento de Química, despertando seu interesse pela  pesquisa. Sua dedicação e talento foram recompensados  quando ele conquistou o primeiro lugar no vestibular  para Engenharia Química. Após concluir sua graduação, decidiu buscar novos horizontes e mudou-se para São Carlos, em São Paulo, para realizar seu mestrado na Universidade de São Paulo (USP).

“E aí eu vim fazer o mestrado aqui em São Carlos, mas  uma vez fui primeiro colocado no exame de seleção e  ingresso, e durante o mestrado, tive a oportunidade de conhecer um professor alemão, muito importante. Ele  estava aposentado na Alemanha, mas estava seguindo como pesquisador na USP. Ele assistiu a apresentação de um seminário meu e falou: ‘Gostei muito, e se algum dia você precisar de mim, eu te ajudo, faço uma carta de  recomendação para você’. E isso ficou na minha cabeça. Durante o mestrado, fui fazer estágio nos Estados Unidos  e passei umas três ou quatro semanas, e surgiu a  oportunidade de fazer o doutorado lá”. 

E completou: “Quando eu voltei, comentei com ele: ‘Olha,  agora se você oferecer aquela carta de recomendação,  pois de fato preciso’. Ele falou: ‘Ah, não sei, veja melhor’. Fiquei decepcionado. Só que ele disse que poderia conseguir um lugar bem mais interessante  para mim, segundo a expectativa dele. E assim foi  feito. No final de semana seguinte, ele ligou para essa  pessoa, que eu terminei indo trabalhar com ela, e ele me falou: ‘na semana que vem, você vai receber uma carta  para fazer doutrorado no Instituto Fritz Auber da  Sociedade Max Planck, em Berlin, na Alemanha’,  rememorou.

Essa oportunidade, aparentemente impossível, se tornou realidade quando Hamilton Varela recebeu uma carta informando que  todas as despesas seriam cobertas. Assim, em abril de  2000, ele embarcou para Berlim para realizar seu  doutorado. Os anos que se seguiram foram de intenso aprendizado e pesquisa, culminando com a defesa de sua  tese e a obtenção do título de Doutor no dia de seu  aniversário de 30 anos. Sua conquista foi ainda mais notável, ao receber uma nota “magna cum laude”, um  reconhecimento raro na Alemanha.

Após concluir seu doutorado, o natalense teve a oportunidade de trabalhar na Universidade Técnica de Munique, antes  de retornar a São Carlos, onde sempre sonhou em fincar raízes. Sua paixão pela USP e o desejo de compartilhar seu conhecimento com a próxima geração, o levaram a se  tornar um Jovem Pesquisador da FAPESP e, posteriormente, aprovado em um concurso para se tornar professor titular  na USP.

“Era um lugar que eu sonhava em voltar um dia, a minha  esposa é daqui e queria fincar raízes na cidade. Era um sonho muito grande ser professor aonde estudei, na USP, e assim foi feito. Voltei em 2004 da Alemanha,  fiquei como Jovem Pesquisador da Fapesp e em 2007, fui  aprovado no concurso para professor da USP. A minha  carreira foi muito rápida para os moldes da USP, já que  todas as projeções internas são feitas por meio de  consursos. Então, o que aconteceu comigo foi o seguinte:  entrei em 2007, com 5 anos de USP, fiz a minha Livre- Docência em Termodinâmica Química, e com mais 5 anos, virei professor titular e com outros cinco anos, me tornei diretor do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP”. 

E continuou: “Em relação aos professores titulares, passei no meu primeiro concurso, e fui o titular mais  jovem do Instituito. Tem outros mais jovens na USP, mas no Instituto de Química de São Carlos, eu fui o mais jovem, com 43 anos. E para diretor também, fui eleito o diretor mais jovem da história do Instituto”, completou Hamilton Varela.

Sua jornada científica continuou durante o doutorado, realizado em Berlim, onde teve a oportunidade de trabalhar com uma orientadora e também conhecer o  renomado Gerhard Ertl, diretor do Institut e ganhador do  Prêmio Nobel de Química em 2007. A inspiração e o apoio  recebidos de Ertl foram fundamentais para sua  trajetória.

Em homenagem a Gerhard Ertl, o pesquisador natalense e um  contemporâneo, que havia sido aluno de Ertl, fundaram um  Centro com o nome do cientista na Coreia do Sul. O  centro tem se desenvolvido de forma significativa, realizando eventos periódicos. Na primeira edição do  evento, foi lançado o Prêmio Gerhard Ertl, que  homenageia o cientista e foi concedido ao próprio pesquisador potiguar.

Além de suas contribuições internacionais, o professor Hamilton Varela recebeu um convite do Gwangju Institute of Science and Technology, na cidade de Gwangju, Coreia do Sul, para  atuar como professor adjunto em um contrato temporário. Inicialmente, o contrato era de dois anos e não poderia ser renovado, mas devido ao seu trabalho excepcional durante a pandemia, ele teve seu contrato estendido por mais três anos. 

Recentemente, recebeu um novo contrato de mais dois anos. Durante sua estadia, ele visita a universidade uma vez por ano para ministrar aulas, participar de eventos e manter contato com os alunos, enquanto também colabora remotamente. Essa oportunidade é considerada prestigiosa e tem proporcionado grandes colaborações em sua carreira, incluindo palestras ministradas em diversos países ao redor do mundo.

Devido aos seus contatos frequentes com a China desde  2011, é possível que em breve o pesquisador natalense também tenha um contrato naquele país. Sua relação com a China tem  sido fortalecida ao longo dos anos, e ele está se  preparando para sua sétima visita ao país no próximo mês  de setembro.

“Vou com muita frequência para a China, é possível que em breve eu tenha um contrato desses lá também, porque tenho muito contato com a China, desde 2011. E no  próximo mês de setembro vou para lá, essa já é a sétima vez que vou para a China”, ressaltou. 

Quanto à sua paixão pela Química, ela despertou durante  o ensino médio, quando Hamilton estudava no Colégio Salesiano e  teve a influência de três professores que apresentaram a  química de uma forma diferente. Sua afinidade com as ciências exatas e a química foi impulsionada pela  versatilidade, interdisciplinaridade e pela estreita  relação com a matemática e a física.

Apesar de ter passado a maior parte do tempo fora de  Natal, sua cidade natal, o pesquisador destaca a  importância da Universidade Federal do Rio Grande do  Norte (UFRN) em sua formação acadêmica. Ele considera a  UFRN como sua “Alma Pátria” e valoriza os excelentes  professores que teve durante sua graduação.

Desafios

Quando questionado sobre os desafios enfrentados no  Brasil, Hamilton Varela ressalta que o país possui  profissionais altamente capacitados e que podem competir  em igualdade de condições com os melhores do mundo. No  entanto, ele destaca a necessidade de uma política de  estado consistente e de longo prazo para financiar a  pesquisa e a inovação. 

De acordo com ele, a continuidade das políticas,  independentemente das mudanças de governo, é essencial  para que o país possa trilhar um caminho do desenvolvimento sustentável. O investimento em educação, ciência e tecnologia é fundamental para o crescimento do Brasil, e o pesquisador acredita que o país tem muito a oferecer nesses campos.

Ao refletir sobre sua trajetória até o momento, o  professor Hamilton Varela se sente realizado e motivado a continuar contribuindo para a universidade pública no Brasil e para o sistema de ciência, tecnologia e inovação do país. Com mais duas décadas ou mais de carreira acadêmica pela frente, ele acredita que ainda há muito a ser realizado em prol do avanço científico e do desenvolvimento do Brasil.

“Um dia desses eu morava ali perto do Cefet, ali em  Morro Branco, estava cordando cedo para  pegar o ônibus para ir para o Salesiano e  de repente me vi nos maiores centros do  mundo, no Instituto Fritz Auber da  Sociedade Max Planck, da Alemanha. Estudar  em um lugar onde passou Fritz Auber, Albert  Einstein, tanta gente importante, é  completamente impensável. E de vez em  quando, parecia que eu estava sonhando”. pontuou.

Universidade da Coreia do Sul

O professor e diretor do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, Hamilton Varela, foi indicado como professor adjunto do Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwangju (GIST, Gwangju Institute of Science and Technology), na cidade de Gwangju, Coréia do Sul. 

Ele foi recomendado pelo Comitê de Pessoal do Corpo Docente do GIST e atuará na Escola de Ciências da Terra e Engenharia Ambiental do Instituto, entre 1º de junho deste ano e 31 de maio de 2025. 

A previsão é de que Varela passe cerca de dez dias por ano em Gwangju, onde ministrará palestras sobre eletrocatálise e termodinâmica. O docente também irá realizar pesquisas em colaboração com o Grupo do professor Jaeyoung Lee, sobre a interconversão entre as energias química e elétrica.

Adenilson Costa | Repórter | Tribuna do Norte