Cultura

Tristeza: Arte popular do Rio Grande do Norte perde mestre Severino do Coco

Severino foi mestre de uma arte criada entre os escravizados dos engenhos de açúcar, o Coco. Foto: Rodrigo Sena

A arte popular ancestral e negra do Rio Grande do Norte perdeu Severino Bernado Santiago, o Mestre Severino do Coco, aos 84 anos, vítima de uma infecção pulmonar, no último domingo (07). O mestre é celebrado por manter viva uma das mais autênticas manifestações da cultura popular do RN, através das brincadeiras de zambê, chegança, bambelô e Boi de Reis, desenvolvidas juntos a grupos locais. Severino ensinou essa arte a gerações de artistas potiguares e contribuiu para mantê-las ativas no estado.

Nascido em Vera Cruz, Severino é mestre de uma arte criada entre os escravizados dos engenhos de açúcar do Brasil colonial. O coco, uma dança de roda e ritmo, surgiu em Pernambuco e se espalhou pelas capitanias adjacentes. É um misto de batuques africanos e bailados indígenas guiado por uma cantoria em pares, conduzida por palmas e instrumentos como ganzá, surdo, pandeiro, triângulo, e os tamancos de madeira que imitam o som do coco sendo quebrado.

Quando criança, Severino acompanhava o pai, Luiz Bernardo Santiago, nas brincadeiras. Vivia no meio rural e por meio desse universo de manifestações populares, aprendeu e dedicou seu trabalho ao coco. Com o pai aprendeu a cantar, produzir os instrumentos e tocá-los, como o pau furado, a dança e a estrutura rítmica e melódica dos versos, caracterizados como cocos de memória, passados pela tradição oral. 


Mestre Severino viveu em vários municípios potiguares, incluindo Natal, onde morou na vila de Ponta Negra. Morava atualmente no distrito de Alcaçuz, em Nísia Floresta. Atuou também em São Paulo do Potengi. Ano passado, o cineasta Rodrigo Sena lançou o documentário “Mestre Severino do Coco”, um curta documental de oito minutos que registra os mais de 10 anos em que o diretor conviveu com o mestre. Rodrigo espera que o filme se transmita às novas gerações, e cumpriu o que Severino pediu: “Se for fazer algo por mim, que faça em vida”.


A Fundação José Augusto emitiu uma nota expressando sua tristeza pela partida “deste enorme mestre que alimentou nossa cultura com a a verdadeira arte do povo”.

Tribuna do Norte