Evento na UFPE denuncia impacto das eólicas sobre patrimônio arqueológico do Seridó
Pesquisadores, professores, ativistas e lideranças indígenas de diversos estados nordestinos se reúnem na Universidade Federal de Pernambuco, campus Recife (UFPE), nesta sexta-feira (31/05), para a mesa redonda “Patrimônio arqueológico x energia eólica: o caso do Seridó”. Organizada por grupos de pesquisa e organizações pernambucanas e potiguares, a ação alerta para os riscos irreversíveis que podem afetar um dos conjuntos arqueológicos mais impressionantes do Brasil.
Com mais de 300 sítios arqueológicos e alvo de pesquisas científicas desde os anos 1960, o Seridó potiguar é também um dos principais focos de atração de investimentos para a geração de energias renováveis no Brasil. A ocupação das áreas serranas pelas eólicas, denunciam os participantes do evento, tem se dado em ritmo acelerado, com licenciamentos pouco rigorosos e riscos severos ao meio ambiente, às populações e ao patrimônio cultural.
O evento desta sexta-feira, gratuito e de livre acesso ao público, acontece no auditório do terceiro andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. A programação completa pode ser conferida na página do Laboratório de Geoarqueologia e Geotecnologias, vinculado ao Departamento de Arqueologia da UFPE.
Danos irreversíveis
As obras necessárias, incluindo as explosões da matriz rochosa, à implantação dos empreendimentos eólicos nas serras seridoenses acarretam em risco de desabamento de rochas e soterramento em locais com intensa ocorrência de grafismos rupestres ou de sepultamentos com datações de até 10,5 mil anos, localizados em sítios como Casa Santa, Talhado do Gavião e Pedra do Alexandre – mais antigos, portanto, que as pirâmides do Egito ou o Círculo de Stonehenge, na Inglaterra.
A chegada das eólicas também implica em desmatamento em áreas de Caatinga, um bioma já fragilizado e com processos de desertificação em curso, inclusive no próprio Seridó. Todo este processo pode levar prejuízos também aos moradores de áreas próximas, causando rachaduras em residências e cisternas de água, perda de acesso a locais de extrativismo vegetal, de lazer e mesmo de culto.
Integrantes da paisagem, os danos aos sítios arqueológicos causariam males também ao patrimônio regional, cada vez mais valorizado pelo turismo sustentável, que também já começa a ser afetado pela produção energética. Mais que isso, o patrimônio arqueológico representa a memória da coletividade e a materialização de uma ancestralidade que tem sido, cada vez mais, reivindicada por parte da população local, em processo de reconhecimento das próprias raízes indígenas.