Censo mostra escolas sem internet, água potável e quadra coberta no RN
Dentre os quase 800 mil alunos matriculados na educação do Rio Grande do Norte, os estudantes enfrentam problemas como falta de internet, esgotamento sanitário, pátio ou quadra coberta, e até água potável. Em 36,6% das escolas, não há um pátio ou quadra de esportes com cobertura para alunos e professores. A falta de internet atinge 499 colégios, equivalente a 15% das unidades de ensino, enquanto a deficiência de internet banda larga — com maior qualidade — é ainda mais grave: 35% delas, ou 1.208 escolas, não têm essa cobertura. Os dados são do Censo Escolar 2021, que mostra ainda colégios sem esgotamento sanitário, seja da rede pública ou fossa, e uma unidade em Natal que sequer possui banheiro. O levantamento foi organizado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon).
Já na rede estadual do Rio Grande do Norte, administradas pelo Governo do Estado, 39% não têm pátio ou quadra coberta. Isso equivale a 234 escolas, dentre as 587 registradas no Censo. Há 4,77% sem nenhuma conexão de internet, e 32% sem banda larga, que afeta 192 escolas. A rede é necessária para as atividades administrativas da direção, que utiliza computadores, e se mostrou ainda mais fundamental durante o período de aulas remotas. Em algumas unidades, os alunos estudavam em casa mas os funcionários continuavam indo trabalhar presencialmente. A conexão também é utilizada pelos alunos e professores para comunicação com familiares e lazer.
Em João Câmara, a cerca de 72km de Natal, existem 41 escolas da rede municipal, mas 75,6% delas não possuem conexão de internet, segundo o levantamento. Em relação à banda larga, a rede não está presente em 90,2% das unidades de ensino. Uma delas, a Escola Municipal Cabeço Preto, localizada na zona rural, não possui esgotamento sanitário. Já a água para consumo humano é um déficit na maioria das escolas do município (56%), enquanto 73,1% não tem pátio ou quadra coberta para as atividades de desporto e lazer.
Já em Baraúna, na região Oeste do Estado, são 30 escolas do município que atendem 4.271 estudantes, e a falta de estrutura atinge a maioria das escolas. Em 17 delas, não há nenhum tipo de conectividade. Em 27, não existe banda larga. Os dados apontam ainda duas unidades sem rede de esgoto, e 25 sem quadra ou pátio coberto.
Procurada, a secretária de educação de João Câmara, Ozélia Medeiros, não atendeu às ligações e não respondeu às mensagens no celular. Em Baraúna, o assessor jurídico da Secretaria de Educação do município, Cláudio França, afirmou que os dados não estão atualizados. “O Censo está sendo aberto agora e serão feitas as correções de inconsistências. Em relação à internet, por exemplo, tivemos um avanço significativo, inclusive de banda larga em parceria com o Ministério das Comunicações”. Sobre as duas escolas sem esgotamento sanitário, ele disse que os números são “inconsistentes”.
Sobre a conexão de internet, o assessor informou que todas as 30 unidades possuem rede, com base nos dados do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Interativo, uma ferramenta de apoio à gestão escolar desenvolvida pelo Ministério da Educação (MEC). De acordo com França, 21 escolas possuem conexão própria por meio do Programa de Inovação Educação Conectada, do MEC, e as outras nove têm antenas que garantem a rede para alunos e professores.
Na Escola Estadual Nestor Lima, no bairro de Lagoa Nova, zona Sul de Natal, o mato domina ao redor da quadra e ao lado da cozinha. Com 366 alunos matriculados de acordo com os últimos dados do Censo, ela passou por uma reforma em agosto de 2021, mas em alguns locais a revitalização ficou pendente. Agora, a direção aguarda a segunda parte das obras, como a reforma da quadra de esportes e da cozinha. “Os alunos têm aula de educação física e usam a quadra, a maioria descalços, porque eles preferem cortar o pé do que perder os tênis. Os professores dão um jeito”, diz a vice-diretora Lorena Silva.
A situação, porém, já foi pior. Em janeiro de 2021, a unidade sofreu cinco arrombamentos em uma semana. A escola estava em aulas remotas no período, mas os funcionários da administração trabalhavam presencialmente e foram afetados. Na invasão, a fiação foi roubada e a escola ficou sem energia. “Se tivesse aula, a gente não teria conseguido dar, porque não tinha nada. Não tinha energia nas salas, não tinha água porque quebraram o registro, então a gente teve que fechar”, lembra. Após o episódio, a gestão da escola buscou agilizar as reformas de maneira emergencial e conseguiu. Mas, com a demora, a escola não pôde recomeçar as aulas presenciais no período em que o Estado permitiu a volta, justamente pelas deficiências. “Não tinha condições”, observa.
Tribuna do Norte