Arboviroses: mortes por dengue em 2022 batem recorde no Brasil
O Brasil chegou a 987 mortes por dengue este ano, segundo boletim divulgado nesta segunda-feira, 26, pelo Ministério da Saúde. O número é o novo recorde anual de óbitos pela doença, superando o maior patamar anterior, de 986 mortes, registrado em 2015. Desde a década de 1980, quando a dengue ressurgiu no País, não se registraram tantas mortes em um único ano. Como o levantamento considerou os casos registrados até o último dia 17 e ainda há 100 óbitos em investigação, o País ainda pode fechar o ano de 2022 com mais de mil mortes por dengue.
Os casos prováveis notificados de dengue cresceram 965% no Rio Grande do Norte no ano de 2022 em comparação com 2021. Também no período, 20 pessoas morreram por causa da doença, cenário bem diferente do ano passado quando uma pessoa faleceu com dengue no Estado. É o que mostra o último informe epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap). Ao todo, foram registrados 41.400 casos prováveis de dengue no RN – o equivalente a população da cidade de Santa Cruz – até a semana epidemiológica 46 (finalizada em 19 de novembro). No mesmo período do ano passado, o número de casos prováveis contabilizados de dengue era de 3.886.
Segundo especialistas, 2022 foi considerado um ano epidêmico das arboviroses. Assim como a dengue, zika vírus e chikungunya, outras duas doenças causadas pelo mosquito aedes aegypti, também tiveram grandes altas ao longo deste ano. De janeiro até a novembro, o Estado registrou 13.873 casos prováveis de chikungunya (aumento de 215%) com sete mortes ante um óbito no ano passado, além de 3.782 casos prováveis de zika, isto é, um crescimento de 874% em relação ao mesmo período de 2021. Todos os dados são referentes ao intervalo entre as semanas epidemiológicas 1 e 46 (2 de janeiro a 19 de novembro), que é como funciona o calendário na área da saúde.
As mortes este ano no País já superam em mais de 400% as registradas em todo o ano de 2021, quando houve 244 óbitos. O Estado de São Paulo se mantém à frente em número de mortes, com 278 óbitos registrados, seguido por Goiás, com 154. Em uma evidência de que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, está se adaptando aos climas mais frios, os Estados da Região Sul aparecem na sequência, completando a lista dos cinco com maior número de mortes: Paraná (108), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66).
O número de casos prováveis de dengue chegou a 1.414.797, com taxa de incidência de 663,2 por 100 mil habitantes. Houve aumento de 163,8% em relação aos casos do mesmo período de 2021. A região Centro-Oeste teve a maior incidência até agora, com 2.028,4 por 100 mil habitantes. O município brasileiro com mais registros é Araraquara, no interior de São Paulo, com 8.716,1 casos por 100 mil moradores. Já em número absoluto, Brasília lidera com 68.654.
Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os números indicam que houve descuido com a prevenção da doença. “Ainda nem acabou a contagem, pois tem dados represados e 100 óbitos em investigação, e já batemos o recorde histórico de mortes por dengue em um ano. Ultrapassamos também 1,4 milhão de casos. Com certeza é o pior ano da dengue em todos os aspectos e isso não aconteceu por acaso. Faltou ação do governo federal em prevenção”, disse.
O número baixo de casos no ano passado, segundo ele, pode ter contribuído para que a população relaxasse nos cuidados básicos, como a eliminação de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor. “Dengue é uma luta contínua, é preciso mostrar que a doença mata e isso se faz com campanhas. Em abril deste ano, nós da Sociedade Brasileira de Infectologia fizemos o primeiro alerta para o grande número de óbitos e a necessidade de retomar as campanhas. Não foi por falta de aviso”, Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Tribuna do Norte