Para alunos, funcionários e visitantes, as placas de formatura colocadas na parede das instituições de ensino são uma forma de parabenizar o foco da turma de formandos e inspirar outros alunos. Porém, no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), na cidade de Caicó, uma das placas chama mais atenção do que as outras. Diferente daquelas que estão repletas de rostos, o quadro da turma 2019.1 do curso de Física na instituição possui um único aluno: o estudante Renato Gomes, de 23 anos.

Natural de Jardim de Piranhas, Renato relatou que a sua turma começou com uma média entre 40 e 50 alunos. Porém, ao longo do curso, vários estudantes desistiram devido a pandemia e reprovações em disciplinas que vieram após o isolamento social. Renato tentou “driblar” o momento atípico considerando as aulas à distância como as presenciais. 

“O período da pandemia influenciou bastante (na desistência de outros). Eu continuei motivado e comecei a lidar com a aula remota como se fosse presencial. Quando tinha prova, eu me dava um limite de uma hora e não consultava a internet para procurar respostas. Eu lidava como aquilo como se eu estivesse na faculadade. Quando as aulas voltaram, nada mudou para mim”, disse. Renato também contou que só haviam cinco alunos no fim do 5° período. A partir do 7°, ele era o único aluno da turma.

Ser a única pessoa em uma sala de aula tem seus prós e contras. O estudante contou que ter a total atenção do professor para tirar dúvidas e discutir os assuntos da aula era algo positivo. Mas a falta de colegas para estudar e compartilhar conhecimento fez falta. “Eu tinha um colega na faculdade que eu ensinava a ele antes das provas. Isso era positivo para mim, que aprendia algo a mais, e para ele que estudava para a disciplina da avaliação”, relatou.

Para definir a própria trajetória no curso, Renato escolheu a frase “Exército de um homem só”, colocada na placa de formatura. Ele revelou que a escolha da frase foi além dos desafios enfrentados, mas também faz referência a uma inspiração da Cultura Pop: o Capitão América, da Marvel Comics. “Ele é feito para enfrentar uma batalha gigante e conseguir superar esses obstáculos sozinho, o que se assemelha ao que eu enfrentei na faculdade”, disse. Além disso, ele afirmou que a frase faz referência a música homônima da banda “Engenheiros do Hawaii”.

A relação do estudante com a Física sempre foi forte. Filho de um professor, Renato contou que sempre fez perguntas sobre a natureza e a ciência desde pequeno. Quando chegou a hora de prestar o Enem, ele conversou com o pai e decidiu optar pelo curso. “Quando eu entrei na faculdade, fiquei deslumbrado. Eu me emocionei e o meu pai chorou. A gente ficou muito alegre. Tudo aquilo que eu imaginava que a faculdade poderia me ensinar, me ensinou”.

Controvérsia 

De acordo com a coordenação do curso, o aluno colocou a placa de formatura sem o seu consentimento. A coordenação ressaltou que a turma da qual Renato faz parte também teve problemas na mudança do formato de dois programas, que são o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e a residência pedagógica, o que contribuiu para que outros alunos deixaram o curso. Da turma original, outros alunos que não estão nivelados (atrasaram matérias do curso ou reprovaram) devem se formar em breve. 

Questionado sobre a placa de formatura, Renato afirmou que convidou alunos de outras turmas de Física para estar na imagem dos formandos. Porém, eles já estavam haviam unido seus nomes com outra turma. Quanto aos remanescentes da turma 2019.1 do curso (que não estão no nivelamento), o estudante afirmou que estes migraram para a turma de 2020, e portanto, estarão na placa junto com estes formandos. 

Tribuna do Norte