Vândalos destroem patrimônio histórico, obras de arte e gabinetes de autoridades
A destruição provocada por terroristas nas instalações do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF) inclui patrimônios históricos que dificilmente poderão ser recuperados e alcançou também os espaços privativos que as autoridades usam para trabalhar diariamente.
No Planalto, a tela “Mulatas”, de Di Cavalcanti, foi furada pelos invasores em seis pontos. O gabinete presidencial, que fica no terceiro andar, não chegou a ser alcançado, já que tem segurança extra e trancas especiais nas portas. A sala da primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, no entanto, foi destruída, assim como o gabinete do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta. Computadores foram quebrados, gavetas, reviradas, e obras de arte, derrubadas no chão.
— A sala do presidente Lula tem um vidro mais grosso. Tem que passar por um, depois por outro, e tem umas trancas. Fica isolada, como se fosse um aquário. Conseguiram destruir a sala da Janja. A Secom foi o lugar mais destruído. Obras de arte, esculturas, obras rasgadas, furadas, quebradas… — disse Pimenta.
Assessor especial de Lula, o ex-ministro Celso Amorim também teve sua sala arrombada no terceiro andar do Planalto, que passou por uma perícia na noite de ontem. No Congresso, o vitral “Araguaia”, que fica no salão verde da Câmara, foi danificado — a obra da artista Marianne Peretti é de 1977.
No prédio do STF, os danos incluem o chamado “Hall dos Bustos”, onde havia esculturas de figuras importantes da República, como Rui Barbosa, responsável pela criação da Corte no modelo atual, em 1890, e de Joaquim Nabuco, abolicionista. O brasão da República também foi atacado. Um exemplar da Constituição, réplica da edição original, foi roubado.
Entre itens de valor histórico danificados também está um tapete que, segundo informações do Supremo, pertenceu à Princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II e responsável por assinar a Lei Áurea, que acabou com a escravidão no país.
No STF, segundo apuração do GLOBO, a avaliação é que o dano ao patrimônio histórico é irreparável e que o prédio principal está “completamente destruído”. A escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, foi pichada. De acordo com relatos feitos à reportagem, os terroristas retiraram as cadeiras que os onze ministros usam durante os julgamentos. Um vídeo mostra o grupo carregando a porta do armário usado pelos magistrados para pendurar suas togas durante as sessões. Na imagem, é possível verificar o nome de Alexandre de Moraes.
Em nota, a presidente do STF, Rosa Weber, afirmou que o edifício-sede do Supremo , “patrimônio histórico dos brasileiros e da humanidade, foi severamente destruído por criminosos, vândalos e antidemocratas”. Segundo informações da assessoria de imprensa da Corte, o edifício passará por uma perícia e ficará fechado hoje.
O Globo