Potiguar vai chefiar laboratório de pesquisa em Harvard
A biomédica potiguar Helena Varela assume nesta segunda-feira (24) a supervisão de um laboratório clínico na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino mais prestigiadas do mundo. Helena é especialista em uma técnica laboratorial utilizada para diagnosticar leucemias e linfomas chamada citometria de fluxo. Em janeiro deste ano, ela já havia sido contratada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde atuou como assistente técnica do Whitehead Institute até a semana passada.
Assumindo um cargo de chefia pela primeira vez aos 28 anos, Helena conta que está animada com o “maior desafio da carreira acadêmica”. Ela vai comandar o Beth Israel Deaconess Medical Center, hospital da Harvard Medical School. “Estou bem feliz porque pelas poucas conversas, eles me deixaram 100% à vontade para colocar o meu jeito de trabalhar no setor. Acho isso muito legal. É muito quando você entra num lugar, que já está todo engessado e você não pode mudar. Eles me deram total autonomia, o que eu achei sensacional”, afirma.
O processo de mudança, do MIT para Harvard, teve início há dois meses. “Eu estava ajudando uma amiga para uma outra vaga, até que eu encontrei essa vaga de Harvard. Não tinha menor pretensão de sair de onde eu estou agora, mas pensei: vou mandar só para que eles saibam que eu existo. No outro dia o recrutador já me mandou um e-mail pedindo dois horários disponíveis para fazer entrevistas. Depois eles me falaram que eu fui selecionada, que eles queriam muito que eu fosse para lá”, diz.
De acordo com a cientista, a citometria de fluxo pode ser utilizada para pesquisa científica e também para o diagnostico clínico de doenças. “A minha paixão é o diagnóstico de linfomas e leucemias e foi o que trouxe até aqui”, relata. Por meio da citometria de fluxo é possível analisar simultaneamente diversos parâmetros celulares. O princípio está na incidência de uma fonte de luz a laser que intercepta partículas sanguíneas, fornecendo dados relativos ao tamanho e à granularidade de cada uma delas, entre outros dados, a partir da dispersão da luz.
Com alta demanda e poucos profissionais especializados, Helena conta que empresas e laboratórios estão “caçando” pesquisadores que possam trabalhar na área. E foi assim que a natalense foi parar nos Estados Unidos. Em setembro do ano passado ela recebeu uma mensagem via LinkedIn de uma empresa de recrutamento. “Eles perguntaram se eu tinha disponibilidade de ir me mudar para Boston”, lembra. Depois do primeiro contato, Helena foi aprovada em um processo seletivo que durou dois meses, com 12 entrevistas.
Em janeiro deste ano ela desembarcou na cidade de Cambridge para atuar no MIT, de onde foi chamada para integrar um dos hospitais da escola de medicina de Harvard. Hoje, Helena é uma das referências quando o assunto é citometria de fluxo para diagnóstico de patologias. Em 2018, o trabalho de conclusão de curso da potiguar intitulado “Síndrome Mielodisplásica: validação de ficha de score multilinhagem por citometria de fluxo” foi publicada na Revista Einstein. No mesmo ano, o trabalho foi apresentado em um congresso na Bélgica.
A trajetória de sucesso da natalense, formada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), teve uma virada de chave importante em 2015. “Foi quando eu entrei num estágio nessa área que atuo hoje. Não tinha a menor ideia do que poderia ser, mas aceitei, abracei aquele tema e me apaixonei”, conta. Em 2017 ela mudou-se para São Paulo, concluiu a pós-graduação em Laboratório Clínico no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Entre 2017 e 2021, Helena atuou no Hospital das Clínicas e no Centro de Hematologia, ambos na Universidade de São Paulo (USP). Nascida em Natal, fez, entre 2012 e 2016, uma dupla Graduação em biomedicina, pela UFRN e pela University of Kent, na Inglaterra.
Atuação nas redes
Helena Varela também é fundadora de uma página educativa sobre a citometria de fluxo. O objetivo dos canais na internet é explicar a temática em uma linguagem compreensível, de modo a ajudar no entendimento da área por alunos em níveis de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu. “A maioria do conteúdo é em inglês e com abordagem bastante técnica, dificultando a aprendizagem. Conheci pesquisadores que tinham de usar a técnica para suas investigações em Mestrado e doutorado, mas não sabiam por onde começar”.
Tribuna do Norte